20 000 pessoas enchiam a Praça de Touros no dia 8 de Julho de 1978. E outras dezenas de milhar abarrotavam Iruñea [Pamplona] naquela tarde de San Fermin, pelo que viveram de perto o assalto policial que acabou com a vida de Germán Rodríguez. Ainda assim, passaram 30 anos e não existe nenhum culpado. Três julgamentos foram concluídos em falso. Advogados tomam a iniciativa para reactivar a investigação.
Passaram 30 anos sem que aflore nenhuma responsabilidade, mas agora dezenas de advogados navarros decidiram não ficar de braços cruzados. A razão é clara: “Poucas pessoas em Iruñea-Pamplona, assim como no resto de Navarra, desconhecerão o que se passou na cidade a 8 de Julho de 1978”. Foi um dos massacres policiais que mais feridos deixaram e, sobretudo, mais marcas no coração de uma cidade que viu desfeitas as suas festas. E foi, para além disso, um dos massacres com mais testemunhas directas. Contudo, passaram três décadas e não há notícias dos tribunais. Naquela época, chegou a haver três julgamentos distintos, e todos terminaram sem resultados.
O seu parecer é conclusivo: “A justiça, neste caso, não só foi cega, como surda, muda e paralítica”, afirmaram os advogados na semana passada, ao mesmo tempo que anunciaram a intenção de trabalhar no sentido de reiniciar a investigação, seja nos tribunais ou nas instituições. “A nossa sociedade demonstrou em inúmeras ocasiões que se indigna perante o esquecimento interessado dos acontecimentos de 1978. Não vale a pena evitar a questão quando já tanto se sabe sobre o que realmente sucedeu em Pamplona naqueles dias, e o que menos importa pedir aos nossos responsáveis políticos e institucionais é que deixem de dizer disparates”, referem num manifesto.
Falaram Llano e Rubio
Os três julgamentos arrumaram-se rapidamente na prateleira, de tal modo que hoje em dia quase ninguém sabe que chegaram a ter lugar. Estes advogados recordaram que um deles, denominado 151/78, estava relacionado com a morte de Germán Rodríguez, provocada por disparados policiais à entrada da Praça de Touros; um outro, denominado 81/80, dizia respeito aos feridos no exterior da arena; e um outro ainda, chamado 82/80, prendia-se com os acontecimentos no interior da Praça. Três julgamentos, nenhum resultado. “Tudo o que se tentou foi infrutífero e, no final, ninguém respondeu ou foi condenado por aqueles episódios sangrentos; e, pior ainda, ninguém foi sequer julgado, e um imenso manto de silêncio cobriu tão execráveis acontecimentos”, denunciam estes advogados, para quem “é realmente difícil fazer justiça à Justiça neste caso”.
Testemunhas, como ficou dito, não faltam. O manifesto, dirigido a instituições e instâncias judiciais, reflecte, não sem alguma ironia, que “terão tido conhecimento” da carga da companhia dos “cinzentos” [FOP] na Praça de Touros, e que “lhes terá chegado informação” sobre a carga posterior nas ruas adjacentes, com dezenas de feridos e um morto.
Também não faltam novelos para desembaraçar, ainda que o manifesto não os chegue a detalhar. Por exemplo, os autores do documentário Sanfermines 78, estreado há três anos, conseguiram entrevistar o então governador civil, Ignacio Llano, e o que era chefe da polícia e o cabecilha da carga na arena, Miguel Rubio. Ambos falam no filme, mesmo que só para se defender. Llano afirma que “se sabia que não era para intervir na Praça de Touros”, e Rubio acrescenta que “algo falhou”. Nem um nem o outro dizem saber o que ocorreu exactamente. O mesmo que os tribunais.
Os mais de 70 advogados reunidos (e continuam a recolher assinaturas) pertencem a diversas gerações e sensibilidades ideológicas. O objectivo comum é apelar tanto ao Tribunal Superior de Justiça de Navarra como ao Defensor do Povo e às instituições, para que se investigue de uma vez.
Fonte: Gara
Imagens: Iniciativa Popular – Herri Ekimena Sanfermines 78 gogoan! sanfermines78gogoan