Na Audiência Nacional espanhola, Carlos Bautista, perorando ontem durante mais de quatro horas sobre o sumário 33/01, afirmou a natureza absolutamente jurídica do julgamento contra o Movimento Pró-Amnistia e acusou os imputados de serem os responsáveis pela introdução de um matiz político, fazendo referência às manifestações que realizaram quando, na sessão inicial, renunciaram à defesa jurídica. Mais ainda, considerou que os acusados agiram dessa forma por “terem seguido o guião ou o manual do bom membro da organização terrorista”, ao mesmo tempo que qualificava essa opção como “farsa, teatro, montagem”. [Começou bem.]
[Mas há mais pérolas.]
Elevando o tom de voz, o magistrado disse, olhando para os acusados: “espero que vocês não gostem nada da sentença e que eu goste bastante”. E chegou, inclusive, a lançar a hipótese de, no caso de serem condenados, os processados fazerem uso do recurso de cassação ou do recurso de amparo para tentar escapar da prisão. [Brincamos!? Isto, sim, Democracia!]
[Outras mais.]
Numa tentativa de provocar a reacção dos acusados, fez referência às declarações de Txema Olabarrieta na primeira sessão, segundo as quais “um Basco só pode ser julgado por Bascos”. Caracterizou a frase como um “exemplo de etnicismo exclusivista” e acrescentou que, “se alguma vez houver uma república soviética basca, não assinarão os acordos do Tribunal Europeu de Direitos Humanos porque nesse tribunal haverá um juiz espanhol”. [Ah democrata! E sortudo membro de tão apolítico julgamento! Não é para todos.]
[E ainda.]
Bautista assegurou que, depois de se ter "levantado o véu" ao Movimento Pró-Amnistia, ficou demonstrado que é “uma organização dirigida pela ETA” e, tal como no sumário 18/98, utilizou a teoria do “desdobramento de delegados” da organização armada para corroborar as suas manifestações. [Nós também conhecemos Kafka, e gostamos.]
Assim, declarou que, apesar da “separação táctica”, existe uma “unidade estratégica”, porque todas as organizações da esquerda abertzale “trabalham sob um mesmo impulso da ETA”. [Absolutamente fantástico. A partir do momento em que se consegue conjugar todas as pessoas de um verbo, já tudo se pode conjugar. Tudo. Todos. Valente. Brilhante.]
[E esta então…]
O magistrado Bautista fez alusão, em repetidas ocasiões, às provas inculpatórias que a Audiência Nacional possui contra os processados, mas, ao comunicar as acusações individuais, não fez mais do que demonstrar, uma vez mais, que os acusados foram membros do Movimento Pró-Amnistia, tudo isso através de escutas telefónicas e conferências de imprensa nas quais os próprios se identificavam nessa qualidade. [Fantástico! E o ridículo?]
[Mais.]
O próprio dito Bautista reconheceu nas primeiras semanas do julgamento, durante uma conversa com os alunos da Universidade Complutense que assistiam à sessão como convidados, que não existiam acusações individualizadas contra os processados, mas que haveria de provar que o Movimento Pró-Amnistia estava encarregue de “marcar objectivos”. [Assim, sim. A Justiça a trabalhar!]
[E apenas mais umas declarações reveladoras.]
Bautista, o ilustre: “não dizemos que algum dos processados tenha ido queimar carros ou contentores, mas que tenham tido que o coordenar de alguma maneira, porque eram eles os que convocavam as jornadas de luta”. [E assim se aprende que: convocaste (terás convocado?), logo responsável serás por queimas e distúrbios, e és um membro mais que certo de aparatos. Qual actividade solidária e o “catano”! Sem mais comentários. A coisa dá-se à evidência. E é triste.]
Para ler a notícia completa: Gara