segunda-feira, 30 de junho de 2008
San Fermin 2008: festas populares ou de aluguer?
1.
Barcina e a "caça às bruxas"
A “caça às bruxas” do Município de Iruñea contra a esquerda abertzale acertou agora em cheio na plataforma Gora Iruñea, formada por mais de 40 associações, entre elas a Federação de Peñas da cidade. Na última quinta-feira, a autarca, Yolanda Barcina, argumentou que a Gora Iruñea “está muito próxima de pessoas que figuravam na lista da ANV, ilegalizada [sic] pelo juiz Garzón,” para justificar o veto a 400 eventos previstos para as Festas de San Fermin e convocados pela plataforma para o Parque da Taconera. Para vincar a denegação das autorizações pedidas pela Gora Iruñea, a autarca centrou-se ainda em motivos de natureza técnica, alegando que o programa proposto “não traz nada novo” e que “a cidade está saturada”.
Tudo isto voltou a gerar grande tensão nas vésperas das festividades, sobretudo depois de o município ter cedido diversos espaços da cidade a uma campanha publicitária da empresa Red Bull, e tendo em conta que o veto municipal aos 400 eventos propostos pela Gora Iruñea se materializou vários meses depois de as autorizações terem sido pedidas (em Fevereiro) e pouco depois de a plataforma ter tornado público o carácter ambicioso de toda a sua programação, com mais de 40 000 panfletos em euskara e castelhano a serem já distribuídos.
Recurso e sessão plenária
Perante isto, os representantes da Gora Iruñea não ficaram parados, e reuniram-se de imediato na Câmara Municipal com os grupos da oposição – PSN, Nafarroa Bai e ANV –, que ali contam com maioria. Como, em princípio, irão ter o apoio de todos, a plataforma tomou a decisão de levar o tema à sessão plenária de dia 3, a apenas três dias do arranque das festas. Para reivindicar a cedência do espaço da Taconera, tomará a palavra Endika Lakuei, presidente da Federação de Peñas.
A Gora Iruñea irá apelar também aos tribunais, através de um recurso de reposição contra o veto municipal. Consideram “cínica” a atitude do Município, que os instou a participar em concursos de ideias quando “não são nenhuma empresa, mas parte activa da cidade” e quando, simultaneamente, se cede espaço público a marcas comerciais.
Fonte: Gara
Plataforma: Gora_Iruñea
2.
[A propósito das festas, e do comercial vs. popular]
«Proxenetas da Festa, malditos sejam», de Fede de los Rios (excerto)
[…] Os nossos governantes locais negam o espaço da festa ao povo e alugam-no às multinacionais. Tristes e aborrecidos, incapazes de entender que a festa é transgressão, aplicam normativas que restringem a liberdade e o gozo. Idiotas com horror ao colectivo, tentam assombrar o mundo (pobre Shakespeare) aparecendo na televisão montados num carro de corridas ou cantando clavelitos em modo de tuna.
Há alguns anos, a burguesia de Iruñea celebrava o San Fermin nos seus clubs privados, saíam pouco, apenas incomodavam na festa. Agora, a cada ano que passa, privatizam um pouco mais a festa para o seu mísero desfrute. A privatização do público é a sua obsessão. Tudo se torna mercadoria para estes comerciantes de sorriso falso. Para o popular, multas e polícia. Até quando iremos suportar a arbitrariedade?
Artigo completo: Gara
3.
Entretanto, a uma semana das festas…
As peñas de Iruñea celebraram ontem o seu dia, aquecendo os motores para o San Fermin, deixando antever um pouco do que está para chegar e apresentando os seus cartazes, sempre coloridos, divertidos e carregados de sátira.
A apresentação dos cartazes, um dos pratos fortes do dia, teve o seu início já com a tarde adiantada. Originais e divertidos, como é costume, neles a sátira sem limites das peñas faz pontaria ao que mais se destacou na cidade ao longo do ano. A autarca continua a ser a protagonista, e aparece nos cartazes a rebaptizar ruas, a defender o “património nazi-onal” ou pendurada na roda gigante que este ano vai estar ausente do San Fermin, como forma de protesto. As reticências de Barcina em mudar os nomes franquistas das ruas da Txantrea, a mudança das barracas para Errotxapea, provocando os protestos dos feirantes, ou o recém-estreado ascensor para supostamente unir esse bairro à Parte Velha também figuram nestes cartazes festivos, que apontam para algumas das actuações de Barcina que maior agitação causaram.
Outro protagonista é o deputado Txentxo Jimenez, sem dúvida a personagem principal dos chistes locais nos últimos meses [ausente nos Himalaias aquando da votação no parlamento de Navarra de uma lei sobre o euskara que o seu partido defendia]. Os agentes da polícia foral e municipal também estão presentes em muitos dos cartazes, caricaturados pelo seu “trabalho” às ordens da primeira edil e representados, no caso dos municipais, na sua actividade mais frenética: a de retirar cartazes das paredes. Com desenhos elaborados e cores apelativas, os cartazes das peñas fazem lembrar a BD, com os seus protagonistas do riso, que não são outros que os governantes da cidade.
Fonte: Gara
Imagens dos cartazes: Iruñeko_Peñen_Federazioa