[Mais vale tarde que nunca (e há que estranhar sempre o ouvido...), mas não deixa de causar nojo e revolta que, depois de partidos suspensos, listas eleitorais ilegalizadas, autarcas na cadeia, moções de censura nos municípios governados pela EAE-ANV, um novo ciclo de repressão atroz, só agora, como por magia, se oiçam coisas como:]
O principal perito da acusação na audição de ilegalização contra a EAE-ANV e o EHAK [Partido Comunista das Terras Bascas] admitiu ontem perante a Sala 61 do Supremo Tribunal espanhol que não encontrou ligação alguma entre a ANV e a ETA ou o Ekin. Mais ainda, qualificou como “lógico” que, depois da ilegalização do Batasuna, a EAE-ANV tentasse “arrebanhar os seus votos. Outros partidos também o fizeram, como o Aralar”, acentuou.
No interrogatório que teve lugar no Supremo Tribunal ficou bem patente que toda a tentativa de deixar de fora da legalidade espanhola a EAE-ANV se baseia na sua proximidade ideológica com o Batasuna. O caso mais manifesto é a posição contrária ao TGV. Não obstante, o perito principal também reconheceu que a formação ekintzale já se opunha a esse macroprojecto muito antes de o Batasuna ter sido ilegalizado e que fazia parte, de facto, da ampla Rede por um Comboio Social.
Fonte: Gara
[E ainda se ouvem outras assim:]
Na segunda sessão da audição oral que decorre no Supremo Tribunal sobre o pedido de ilegalização da ANV, um guarda civil contradisse o seu próprio relatório, no qual afirmava que a ANV financiava o Batasuna de modo sistemático. Mais à frente, o mesmo agente explicou que nunca chegaram a analisar a finalidade desses pagamentos, e que apenas fizeram questão de “destacar os vínculos dessas pessoas com o Batasuna, porque era isso o que nos pediam”.
[E mais:]
Depois de tudo, Iñigo Iruin [advogado de defesa] acertou em cheio na questão: “Vocês explicaram-nos aqui que analisaram 122 000 movimentos bancários e 130 ou 140 contas da ANV. Existe alguma transferência ou pagamento destinados a algum membro da Mesa Nacional do Batasuna?”. O guarda civil respondeu em tom lacónico: “Que eu saiba, não”.
Mas este não foi um deslize de um agente particular. Outro dos autores do relatório sobre supostos vínculos económicos entre o partido ANV e o partido Batasuna também não conseguiu manter a tese contundente dos promotores da ilegalização. Assim, Iruin colocou-lhe uma última questão, que resumia todas as anteriores: “Como chegaram à conclusão de que estes movimentos bancários fundamentam a existência de um financiamento do Batasuna por parte da ANV? Pergunto-lho porque é isso o que afirmam as petições: chegaram realmente a essa conclusão?”. O guarda civil preferiu dar uma resposta evasiva: “Essa conclusão não figura no nosso relatório”.
[O método da "batedora":]
O “desajuste” talvez resida no procedimento policial. O terceiro dia jornada da audição relativa à ilegalização começou por aí, com um agente da Guarda Civil dando explicações profusas sobre o seu método de trabalho: “a análise do tipo 'batedora’”. Explicou que recolhem indícios e que os relacionam uns com os outros “sob o prisma da lógica e da experiência”, através de um debate constante entre os peritos. “O produto final são os indícios sobre os quais fazemos a nossa reflexão; em nenhum caso juntamos provas, nem é esse o nosso objectivo”, confessou.
[E há quanto tempo estão suspensos os partidos bascos, entre Kafka e a batedora?]
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