quinta-feira, 19 de junho de 2008

Em Iruñea: Barcina encerra gabinete ‘abertzale’ e manda polícia silenciar protestos


Na terça-feira, agentes da Polícia Municipal de Iruñea [Pamplona] reprimiram com dureza os protestos de vários simpatizantes da esquerda abertzale que tinham acorrido à Câmara, juntamente com o vereador Mikel Gastesi, para denunciar o encerramento do gabinete da EAE-ANV por parte da autarca. Aquela que tem vindo com os anos a tornar-se uma espécie de guarda pessoal de Barcina impediu o acesso ao interior do edifício e desatou a identificar toda a gente, sendo que o fotógrafo da agência Argazki Press e este redactor também foram identificados e convidados a abandonar o edifício, não sem que antes a câmara do repórter fotográfico fosse requisitada, com o argumento de que não possuía autorização para fazer fotos dentro da Câmara Municipal.
A equipa governativa do Município iruindarra fez saber através de uma nota de imprensa que tinha procedido ao encerramento do gabinete “depois do relatório emitido pelo Departamento da Administração Local, solicitado pelo próprio Município, no qual se interpretam e delimitam as consequências do auto do juiz Baltasar Garzón que ordenava a suspensão das actividades da EAE-ANV”. De acordo com esse relatório, “os vereadores da ilegalizada ANV [há suspensão de actividades, não ilegalização] no Município de Iruñea não têm direito a utilizar o gabinete”, dando aos eleitos abertzales um prazo de 24 horas para recolherem a documentação que ali guardam.

À frente dos juízes

Esta actuação é mais um passo na ofensiva da UPN contra os edis independentistas, que tentou apartar e encurralar desde o início da legislatura, adiantando-se sempre às próprias resoluções emitidas desde a Audiência Nacional espanhola. As medidas promovidas por Yolanda Barcina foram sendo executadas de modo progressivo. Primeiro, proibiu-lhes a utilização da sala de imprensa, posteriormente retirou-lhes os cargos de representação municipal e denegou-lhes a autoridade para celebrar bodas civis, e mais tarde tirou-lhes o correio electrónico.
A equipa governativa da UPN procurou, em todos os momentos, fazer a leitura mais restritiva possível dos autos de Garzón, para impossibilitar mais ainda, se é que isso se pode imaginar, o trabalho político destes vereadores, interpretando matizes que não se especificam de maneira clara nos relatórios judiciais. De facto, uma ou outra dessas medidas foi inclusive indeferida pelo TAN (Tribunal Administrativo de Navarra), que ainda na semana passada deu razão aos edis assegurando-lhes o direito de expor os seus próprios símbolos na sala de imprensa da Câmara Municipal, algo que tinha sido proibido por um decreto da Municipalidade.
Para além de todos estes impedimentos, os vereadores também foram vetados nas próprias sessões plenárias, onde a UPN e o PSN fizeram um pacto para impedir que alguma moção por eles proposta seja incluída na ordem do dia, tentando silenciar a voz da esquerda abertzale por todos os meios ao seu alcance.
De todas as formas, a brutalidade e a contundência exibida na terça-feira pela Polícia Municipal dentro do próprio edifício da Câmara deixou patente o endurecimento das actuações deste corpo policial, que parece cada vez mais afastado dos cidadãos e disposto a fazer cumprir a com todo o rigor as ordens do partido que governa a cidade.

“Vingança política”

À tarde, com os ânimos serenados, Mikel Gastesi ofereceu uma conferência de imprensa em frente à Câmara Municipal de Iruñea acompanhado por vários simpatizantes da esquerda abertzale, alguns dos quais tinham estado presentes nos acontecimentos da manhã.
No parecer do vereador, o fechamento do seu gabinete municipal é “um acto de vingança política” de Yolanda Barcina contra a esquerda abertzale, dias depois de o TAN “nos ter dado razão” relativamente ao uso da sala de imprensa.
Assim, denunciou que a primeira edil da UPN, “com o silêncio cúmplice dos restantes grupos, atacou o direito de exercermos a nossa actividade política”, uma vez que Barcina “não suporta a ideia de que se possa trabalhar em prol de outro modelo de cidade”.
“Para lá deste acontecimento, queremos denunciar a instauração paulatina do estado de excepção no Município de Iruñea e no resto da cidade por parte do grupo da UPN”, referiu Gastesi.

Fonte: Gara