sábado, 9 de outubro de 2010

Atiraram um pau e era um boomerang

Quando, no dia 17 de Outubro de 2009, uma enorme manifestação denunciou em Donostia a detenção de nove militantes da esquerda abertzale, nestas páginas falou-se, acertadamente, de «efeito boomerang». Aquela crónica referia-se ao facto de a operação policial ter desencadeado uma resposta de tal magnitude que o golpe tinha sido amplamente devolvido aos promotores da razia. No entanto, julgo que essa mesma definição pode ser também aplicada ao que se passou desde então neste país.

Não passa despercebido a ninguém que nestes doze meses o Estado espanhol fez de tudo para destruir o que naquele Outono ainda estava a começar a nascer. Revemos a hemeroteca e vemos demasiadas notícias dolorosas neste ano. No entanto, no final a situação fugiu ao seu controlo, e hoje deu-se conta de que tem um grave problema entre mãos.

Dizem que algumas guerras são decididas pela opinião pública, e esta é como uma bola que se mantém num equilíbrio precário entre duas encostas. Pode permanecer ali um tempo, mas, uma vez que penda para um dos lados e comece a rolar, já não há quem a pare. Julgo que em Euskal Herria a opinião pública já se decidiu. A bola, que porventura até há não muito se mantinha expectante, começou a rolar, e fê-lo na direcção de quem aposta num processo democrático. A sociedade basca viu que passos deram uns e outros, avaliou e decidiu. E, a partir de agora, a atitude de «firmeza» adoptada pelo Governo espanhol virar-se-á cada vez mais contra si. Cada detenção, cada proibição, cada tortura, cada resposta negativa aos passos que a outra parte der, será entendida como sinal de debilidade, de falta de argumentos face a propostas de solução. Cada vez mais, porque a sociedade já decidiu quem segue no bom caminho e quem vai na direcção contrária. E há-de premiar uns e castigar outros, na medida em que avancem nessas direcções.

Há um ano Madrid atirou um pau e agora vê como volta, com mais força e direito à cabeça.

Iker BIZKARGUENAGA
jornalista
Fonte: Gara