segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Fundação Euskal Memoria: 50 anos de violência redescoberta para uma Comissão da Verdade


Um ano depois de se apresentar, a fundação Euskal Memoria está prestes a concluir o seu primeiro trabalho. Documentou os últimos 50 anos de repressão em Euskal Herria. O trabalho, intitulado No les bastó Gernika, inclui casos novos e lança um outro olhar sobre os já conhecidos. Tudo com um só propósito: «Euskal Herria precisa da verdade, nem mais nem menos».

Não foi necessário partir do zero, porque já havia muitas histórias escritas. Mas o trabalho de auzolan permitiu descobrir outras novas ou ampliar as já conhecidas. E isto é só o princípio, segundo ressalta a Euskal Memoria. Joxean Agirre, coordenador de No les bastó Gernika, refere que: «se, transcorridos mais de 70 anos desde que se iniciaram os crimes fascistas de 1936, ainda não foi possível elaborar um censo completo das vítimas do franquismo durante os seus primeiros anos, a ninguém causará estranheza que explorar as consequências do conflito político no último meio século em Euskal Herria traga dificuldades acrescidas. Apesar disso, neste trabalho tornamos público o maior caudal de informação jamais recompilado sobre a repressão exercida sobre a população basca entre os anos de 1960 e 2010».

Os impulsores da Euskal Memoria vão reconstruindo esta realidade «dolorosa» num trabalho que se faz de terra em terra, e com a convicção de que algum dia, «não muito distante», o seu labor estará sobre a mesa de uma Comissão da Verdade. Uma síntese de todo o imenso material recompilado até agora sobre estes 50 anos - a que se seguirão outros - vair surgir proximamente em formato de livro, tendo em vista a Feira de Durango, embora o objectivo da iniciativa não seja comercial, mas antes social e político: «Para que o fogo de Gernika se extinga definitivamente, Euskal Herria precisa da verdade».

De facto, em princípio este primeiro trabalho não estará à venda nas livrarias, mas será entregue aos promotores da Euskal Memoria a troco da quota anual de 65 euros. Com isso, darão um novo impulso à busca dos 6000 voluntários de que necessitam para desenvolver o seu trabalho. Um trabalho que, como realça o presidente da fundação, Iñaki Egaña, não procura alimentar o vitimismo, mas preencher um vazio gigantesco na memória do país. Enquanto outras violências, como a da ETA, estão plenamente documentadas, faltava fazer o mesmo com a repressão.

Nas suas mais de 1000 páginas, No les bastó Gernika (Gernikako seme-alabak em euskara) inclui histórias, dados e análises como esta pequena amostra:

Os primeiros torturados da ETA / De Jacinto Ochoa a «Gatza»

O relatório médico de Unai Romano / O olhar de Crespo Galende

Antes morrer que ser detido / Quem acabou com «Txirrita»?

Carga massiva na prisão de Sória / Atirar à queima-roupa em Iruñea

La Salve, doze anos de massacres / Lesionado para toda a vida aos 16 anos

A sinceridade de Cassinello / Cacetetes contra um féretro

«Itziarren semea» no corredor / Morto por causa do julgamento de Burgos

400 detidos só em Ondarroa / A custosa solidariedade com os bascos

Ramón SOLA
VER «a pequena amostra» no Gara