sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O arcebispado apropriou-se de 1087 bens em Nafarroa


Entre 1998 e 2008 o arcebispado apropriou-se de 1087 bens em Nafarroa, dos quais 651 são templos paroquiais, 191 ermidas e 9 basílicas. Além dos locais de culto, inscreveu em seu nome 42 casas e vivendas, 26 estabelecimentos comerciais, armazéns e garagens, 2 átrios, 8 cemitérios, 107 propriedades, 38 prados, 12 vinhas, pinhais e olivais e 1 frontão.

O «escândalo monumental» que o colectivo Altaffaylla descobriu por acaso no princípio de 2007 deu finalmente título a um livro de 320 páginas que recolhe de forma pormenorizada todos os bens que a Diocese de Iruñea registou entre 1998 e 2008. Esta obra foi apresentada na terça-feira na capital navarra por alguns dos seus autores, entre os quais se encontram historiadores, juristas especialistas na matéria e até sacerdotes e ex-sacerdotes.

Pedro Cabodevilla, presidente da Plataforma de Defensa del Patrimonio Navarro, explicou que esta obra aborda a privatização do património navarro desde os pontos de vista histórico, jurídico e moral. Também constatou que o arcebispado se limitou a dizer que esses bens são seus «desde tempos imemoriais», argumento que foi rebatido e amplamente documentado por historiadores e advogados navarros.

José Mari Esparza, coordenador da obra, salientou o facto de 117 municípios e freguesias de Nafarroa terem aderido «até ao momento» à Plataforma, algo insólito na história recente deste herrialde, e acrescentou que algumas localidades ainda não o fizeram porque não abordaram a questão em sessão plenária municipal ou porque «ainda não acreditam».

Face à situação que se verifica actualmente em Nafarroa Beherea, onde as igrejas «pertencem à sociedade», Esparza recordou que em Nafarroa Garaia a maior parte dos locais de culto foram privatizados quando Fernando Sebastián era bispo de Iruñea, e constatou que «esses bens foram utilizados historicamente para múltiplos fins».

Referiu que existe ainda uma terceira via, a de quem defende que esses bens pertencem às paróquias. «Nós não partilhamos dessa ideia, mas é sintomático que muitos párocos não estejam de acordo com os seus chefes», comentou Esparza.

A advogada Isabel Urzainki alertou para a possível inconstitucionalidade da legislação que permite à Igreja católica registar estes bens, em concreto o artigo 206 da Lei Hipotecária. O historiador Mikel Sorauren acrescentou que «a Igreja não pode reclamar o que não é seu na origem» e defendeu que os ditos bens «deveriam ser devolvidos aos seus verdadeiros proprietários».

Em nome dos doze primeiros autarcas que dinamizaram a Plataforma, o presidente da Câmara de Uharte, Javier Basterra, acusou o arcebispado de «apropriação indevida» e criticou a «conivência» entre a hierarquia da Igreja e «certos estratos». Pediu ainda aos partidos políticos que «se mexam» face ao que qualificou como «crime ou delito económico», porque «muitas apropriações foram executadas com a noção de se estar a praticar um crime».

Os títulos dos capítulos da obra são peculiares, com parábolas e referências bíblicas, e termina recordando que existem dois mandamentos que dizem «não roubarás» e «não mentirás».
Iñaki VIGOR

Jesús Lezaun: «Os bispos são verdadeiros assaltantes. Vão-se embora»
A intervenção que mais chamou a atenção durante a apresentação deste livro foi a do teólogo Jesús Lezaun. «Fico aterrado ao pensar que a Igreja se tornou na maior imobiliária de Navarra. Aquilo que fez foi uma enorme atrocidade, e os bispos transformaram-se em verdadeiros assaltantes. Vão-se embora!», exclamou Lezaun.
Na sua perspectiva, é «arrepiante» que os máximos dirigentes da Igreja em Nafarroa tenham realizado esta operação «sem dizer nada a ninguém da cúria» e ainda por cima «contra o que diz o Evangelho e Jesus Cristo», embora tenha dito também que, «quando se trata de dinheiro, são capazes de tudo».
«Do ponto de vista religioso, é uma monstruosidade», resumiu Lezaun.
Fonte: Gara