quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Operação contra a dissidência política


A operação policial dirigida ontem de madrugada pelo juiz da Audiência Nacional espanhola Grande Marlaska, coordenada pela cúpula policial e executada por mais de 650 polícias, deixou em Hego Euskal Herria [País Basco Sul] um enxurrada de detenções de jovens bascos cujo único delito é «exercer alegadamente funções de responsabilidade na Segi», segundo as explicações do Ministério do Interior. Como extraído de algum manual com as folhas gastas pelo uso, o discurso oficial continuava a felicitar-se «pela decapitação» da organização juvenil e, mais uma vez, pelo golpe infligido «ao alfobre da ETA».

Os slogans são os mesmos, o método nocturno e mediático, idêntico. Só muda a roupagem jurídica, cada vez mais ligeira, mais alinhavada às exigências do guião desenhado pelo Ministério do Interior. Já não é imprescindível que aos detidos seja atribuída uma acção criminosa concreta, datada num tempo e lugar concretos, basta simplesmente relacioná-lo com a hipotética militância numa organização política que trataram de ilegalizar previamente. Há algum tempo que o Estado decidiu perseguir sem tréguas a dissidência política, criminalizar o independentismo e livrar esse caminho de qualquer obstáculo judicial que o faça travar ou o retarde. É esse o manual e, depois de cada operação, repetem até à saciedade os seus slogans com a esperança de que, dita mil vezes, a mentira acabe por parecer verdade.

Em Euskal Herria, essa estratégia não funciona. E no âmbito internacional também se questionam elementos de uma política impermeável aos direitos humanos. «A militância ou a liderança de um partido político, legal ou ilegal, são condutas legítimas e manifestações indiscutíveis da liberdade de expressão e opinião, bem como do direito de associação», afirmava há não muito tempo o Grupo de Trabalho sobre a Detenção Arbitrária da ONU. Com as detenções de ontem essa lista de injustiças cresce. Mas o mais grave é que se pretende, para além disso, condenar uma outra geração de bascos a essa opressão estrutural. Jogam assim com o futuro de todo um povo.
Fonte: Gara