Jesús Mari Basance, preso na quarta-feira passada juntamente com o seu irmão, Juan Carlos, e Xabier Atristain, foi posto em liberdade no sábado de manhã, por volta das 8h30, em Madrid. Basance esteve três dias incomunicável em poder da Guarda Civil e saiu em liberdade sem ser presente a um juiz. O morador de Villabona ficou na rua, sem que os seus familiares soubessem de nada, e teve de pedir dinheiro nas ruas para poder fazer uma chamada telefónica. Os seus familiares e amigos deslocaram-se a Madrid assim que ficaram a par da notícia, e regressaram com Basance a Villabona. Quando chegou à localidade guipuscoana, era já noite, tendo sido recebido por centenas de pessoas.
O Movimento pró-Amnistia anunciou que ontem se ficaria a saber como o jovem tinha sido tratado, tendo desde já adiantado que, entre outras coisas, «o obrigavam a ouvir os interrogatórios ao seu irmão».
Entretanto, no sábado pelo meio-dia, uma centena de habitantes de Villabona deu uma conferência de imprensa para denunciar a operação levada a cabo na quarta-feira. Quiseram transmitir todo o seu apoio e solidariedade aos três detidos. «Mais uma vez, temos de falar do regime de incomunicação e da tortura, porque temos medo de que mais três nomes passem a fazer parte da lista dos torturados», disseram, lembrando assim que, das 28 detenções de cidadãos bascos efectuadas pela Guarda Civil, em 14 houve denúncia de tortura. «Estes dados não fazem mais que aumentar a nossa preocupação», afirmou Esti Amenabarro, moradora da localidade guipuscoana.
Amenabarro disse que «a repressão que Villabona viveu estes últimos meses» é uma amostra da «perseguição» sofrida por Euskal Herria. «O vice-presidente falecido em virtude da violência da Ertzaintza, o refugiado basco que morreu com cancro, detidos, torturados, proibições, ocupação policial, controlos... Em pouco tempo, tivemos de aguentar uma valente dose», resumiu.
Em Villabona, as pessoas percebem com clareza que o objectivo das operações policiais levadas a cabo durante esta semana é «criar obstáculos» ao novo ciclo político aberto em Euskal Herria. Esta porta-voz afirmou que «o Governo espanhol anunciou mais repressão, após o gesto de boa-vontade da ETA. Mais repressão contra o processo democrático de Euskal Herria».
Apesar de tudo, mostraram vontade de «romper o círculo do sofrimento em que Euskal Herria se encontra imersa» e destacaram a necessidade de «um cenário de paz e justiça para as gerações vindouras». Para Amenabarro, «quem reivindica a repressão nega a democracia e quem celebra a repressão quer impedir a paz». Neste sentido, referiu que será «necessário» parar a repressão para poder viver em paz.
Juan Carlos Basance e Xabier Atristain, detidos juntamente com Jesús Mari na quarta-feira de manhã, continuam incomunicáveis em poder da Guarda Civil e, seguramente, vão passar na segunda-feira pelo gabinete do juiz da Audiência Nacional espanhola, Ismael Moreno.
Na sexta-feira, Atristain foi levado para Donostia de helicóptero para participar nas buscas a uma cave situada no bairro donostiarra de Puio. De acordo com as agências noticiosas espanholas, agentes do Tedax encontraram explosivos e armas num fundo falso.
Fonte: Gara
ADENDA (04/10/2010): Tortura: voltam a acusar uma pessoa do atentado contra Mújika
Antes, a Guarda Civil atribuiu a autoria deste atentado mortal ao inexistente Comando Urbasa, e posteriormente a duas pessoas detidas em França. Agora, a Guarda Civil afirma que Juan Carlos Besance terá participado no atentado.
A história volta a repetir-se. A Guarda Civil voltou a acusar alguém de ter participado no atentado mortal contra o vereador de Leitza Jose Javier Mújika, no caso um dos detidos na quarta-feira passada em Gipuzkoa. E outra vez depois de ter mantido os detidos incomunicáveis. Segundo divulgaram os seus advogados, foram torturados.
Comando Urbasa, uma grande mentira
Anteriormente, a autoria do atentado contra o vereador de Leitza tinha sido atribuída a quem tinha supostamente constituído, em 2000, o Comando Urbasa. Nesse ano foram detidas várias pessoas de Nafarroa, acusadas de fazer parte deste comando e de participar na referida acção armada. Durante o período de incomunicação, de forma inexplicável, alguns detidos confessaram de forma espontânea ter sido os autores da morte de Mújika. Contudo, o castelo de cartas da Guarda Civil desmoronou-se alguns anos mais tarde, quando foram detidos em França dois voluntários da ETA a quem foi atribuída a autoria desse atentado. A Procuradoria retirou as acusações contra os navarros. Fica por explicar por que é que uma pessoa que é inocente, na esquadra, se confessa culpada de um crime que não cometeu.
Desta vez, a comunicação social também não se questionou como é possível que um dos detidos tenha atribuído a si mesmo a participação nesta acção armada. A resposta mais lógica não será publicada na maior parte deles.
Fonte: apurtu.org
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Nos cinco minutos em que lhes foi possível comunicar com os seus advogados, Xabier Atristain e Juan Carlos Besance disseram ter sido duramente torturados durante os cinco dias que permaneceram incomunicáveis em poder da Guarda Civil.
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Um tribunal de Belfast indeferiu um pedido de extradição contra Fermín Vila
Um tribunal de primeira instância de Belfast indeferiu na sexta-feira um dos três pedidos de extradição emitidos pela AN espanhola contra o irundarra Fermín Vila, detido no passado mês de Junho na capital do Norte da Irlanda e que desde então se encontra na prisão de Maghaberry.
A defesa de Vila tinha argumentado que este pedido de extradição apresentava «defeitos de forma», facto que foi aceite pelo juiz na sessão que teve lugar esta sexta-feira.
O magistrado do MP do Norte da Irlanda, Stephen Ritchie, precisou, contudo, que a Audiência Nacional prevê emitir em breve um novo mandado de extradição, com o erro corrigido.
Apesar de tudo, o advogado da defesa afirmou que na próxima audiência, prevista para dia 15 de Outubro, irá apresentar argumentos para solicitar a anulação dos outros dois pedidos de extradição.
Fonte: Gara