domingo, 1 de novembro de 2009

A dobrar ou nada


A máquina repressiva do Estado espanhol gira muito depressa. Deita tanta lenha para a sua caldeira que se torna difícil seguir-lhe o rasto. Quando muito, e com atraso, consegue-se vislumbrar o fumo. Esta semana ocorreu outro desses saltos qualitativos que apitam aos ouvidos de qualquer observador estrangeiro e fazem com que a Amnistia Internacional afirme que a repressão em Euskal Herria não tem termo de comparação na Europa, e que, apesar disso, passam desapercebidos aqui.

Com a «doutrina Parot» inventou-se o duplo cumprimento das penas. Ensaiou-se também a dupla condenação pelo mesmo facto, com o esquema de julgar primeiro em Paris e depois em Madrid. Nos casos do Egin e do Egunkaria nasceu ainda a prova dupla ou ambivalente: um mesmo documento serve para fechar dois diários. Esta semana, com o pedido de condenação avançado pelo Ministério Público contra Arnaldo Otegi no processo das herrikos, vimos como se pode encarcerar a mesma pessoa não duas vezes, mas três, por um caso que nem sequer foi a julgamento. E agora, com a sentença pioneira por «pertença à Segi» decretada contra oito jovens de Lea-Artibai, nasce uma outra dupla punição. Já têm em cima 48 anos por serem «terroristas», embora não haja outra «arma» que não seja um autocolante na parede, uma T-shirt no armário ou uma confissão forçada. Esta sentença, por sua vez, abre caminho à sua condenação em julgamentos futuros por acusações concretas de sabotagens. A Audiência Nacional é dona e senhora.

Qualquer político basco, questionado sobre o caso, encolheria os ombros. Não está na agenda, simplesmente. E, no entanto, todos sabem que é mentira que a Segi seja uma organização terrorista. Há muito por fazer. Quando o Estado dobra a sua aposta, em Euskal Herria a resposta não devia ser nada.

Ramón SOLA
Fonte: Gara