terça-feira, 3 de novembro de 2009

Luis Núñez Astrain, um homem comprometido


Nascido em Donostia em 1939, Luis Núñez Astrain morreu no domingo na sua cidade natal vítima de uma doença grave, contra a qual lutou denodadamente durante os últimos anos da sua vida. Licenciado em Linguística e Sociologia pela Sorbonne, trabalhou também na área do jornalismo no diário Egin.

Na sua vasta trajectória de autor de obras no domínio da linguística, publicou vários ensaios relativos ao euskara, ao ensino deste idioma e à sua complicada sobrevivência, conjugando sempre o rigor intelectual com o ânimo de divulgação que o motivava. Deu à estampa obras técnicas, dedicadas à fonologia e aos dialectos do euskara, até à sua última obra de investigação, El euskera arcaico, e a sua lista de livros publicados inclui também títulos em que a vertente linguística e o substrato político se combinam, daí resultando obras que se afirmam já como pontos de referência na história de Euskal Herria, como é o caso de La razón vasca e de Opresión y defensa del euskera.

A sua experiência profissional também abarcou o campo jornalístico. Foi redactor-chefe do diário Egin nos anos 80, onde trabalhou até ao fechamento do periódico por ordem do juiz Baltasar Garzón, em Julho de 1998. Autor da entrevista realizada ao histórico dirigente da ETA Txomin Iturbe durante o seu desterro na Argélia, Luis Núñez foi também uma pessoa politicamente empenhada. Eleito membro das Juntas Gerais de Gipuzkoa pela formação política Herri Batasuna, o sociólogo e linguista foi um dos que cantaram o hino «Eusko Gudariak» ao monarca espanhol Juan Carlos I durante a sua visita à Casa das Juntas de Gernika, em 1981. Anos mais tarde, em 1989, Luis Núñez integrou a delegação basca durante as conversações que decorreram em Argel entre o Governo espanhol e a organização armada ETA.

Trabalhador incansável, de personalidade firme e tenaz, e com um elevado nível cultural, a actividade política de Luis Núñez tinha-se iniciado já nos anos do mais duro franquismo. Militante da ETA Berri nos anos 70, foi detido durante o último estado de excepção decretado para Euskal Herria. Quando o período de excepção decretado para Gipuzkoa se esgotou, foi transferido para a Bizkaia. Ali, permaneceu sob detenção e continuou a ser interrogado sem parar pela Polícia. No total, o período da sua detenção ultrapassou um mês. Passados os anos, ele mesmo brincava com a possibilidade de ostentar um dos tristes recordes desta Euskal Herria trágica. «Quando saí da esquadra - relatava - estava pisado, com a cor do vinho, da cabeça ao dedo grande do pé».

Mertxe AIZPURUA
Fonte: Gara