segunda-feira, 14 de junho de 2010

Não pedem perdão

Agora que o unionismo espanhol fez da manipulação de uma parte das vítimas o eixo central do seu discurso anti-abertzale, os partidos que o representam na CAB, PP e PSOE, expressam tanto o argumento que acabam por deixar a sua fealdade a nu.

As desculpas exibidas para se recusarem a pedir ao Governo espanhol que imite o alemão e peça perdão ao povo de Gernika pelo bombardeamento assassino e a mentira criminosa a que foi submetido vão desde a extravagância ao pateticismo. Vejamos.

Oscar Rodríguez, do PSE-PSOE, argumentou que o pedido é «absolutamente delirante», «já que não há nenhum motivo para que a Espanha democrática peça perdão a si mesma quando foi atacada pelo fascismo».

O argumento seria válido se essa «Espanha democrática» não se fundamentasse na negação antidemocrática da existência de um povo - o basco - sujeito de direitos. E talvez valesse se essa «Espanha democrática» fosse outra coisa diversa da criatura disforme concebida por aquele mesmo fascismo atacante em cumplicidade com os elementos mais oportunistas dos atacados, rodeando assim de afecto e lealdade o herdeiro nomeado por Franco.

Das fileiras do PP - esses que viveram a ditadura com «extraordinária placidez», nas sinceras palavras do seu paladino Mayor Oreja - foi a parlamentar Mari Mar Blanco - dramático paradoxo por ser quem é - que se encarregou de ofender centenas de milhares de vítimas, de boa gente, milhares e milhares, que se opuseram e enfrentaram com escassos meios e decidida convicção democrática os aliados franquistas de Hitler e Mussolini.

Antes foi a sua chefe de fileiras, Arantza Quiroga, que insultou quem pedia justiça para Gernika. E, em patética imitação, Blanco pediu que se «virasse a página» de uma vez, porque «atrocidades houve nos dois lados e há que admitir que houve heróis nos dois lados».

Não. Atrocidades foram as dos fascistas que assolaram a Ribera navarra e encheram as suas valetas de cadáveres de camponeses e operários indefesos; atrocidades foram as dos pelotões de fuzilamento que perfuraram os muros dos cemitérios bascos. Os que aplicaram o garrote vil a professores, sindicalistas, socialistas, anarquistas, comunistas e nacionalistas. E o seu expoente máximo foi Gernika.

Não querem pedir perdão. E sabemos porquê. O seu herói foi Moscardó e o nosso, Saseta.

Martin GARITANO
jornalista
Fonte: Gara