sexta-feira, 18 de junho de 2010

A vida de Alba, activista de Gares executada em El Salvador, num romance de Kitxu


A activista garestarra Begoña García Arandigoyen, Alba, foi executada
extrajudicialmente em El Salvador em 1990. Era uma médica de 24 anos que militava nas fileiras da Frente Farabundo Martí de Liberación Nacional. O escritor Iñaki Gonzalo, Kitxu, resgatou a sua história do esquecimento para a romancear em 142 páginas, que surgem acompanhadas de diversa documentação. ¡Cómo no quererte Alba! é uma das novidades mais fortes da feira do livro de Bilbo.


«Quando me propuseram escrever a história de Begoña García Arandigoyen, Alba, pensei que não era capaz». Arranca assim o último livro de Iñaki Gonzalo, Kitxu, escrito na solidão do cárcere de Dueñas. O desafio não era nada fácil: relatar a vida de Begoña García, uma médica garestarra executada com um tiro na nuca em El Salvador pouco tempo depois de se ter envolvido na guerrilha da FMLN.

Contudo, após dois anos de trabalho, dos documentos que pingavam lentamente e do vai-vém de rascunhos nas visitas à prisão, ¡Cómo no quererte Alba! mostra-se como uma das novidades mais atractivas da feira de Bilbo. A proposta da Txalaparta é arriscada. Consiste num jogo entre a biografia e o romance. Não é uma questão clara para o próprio Kitxu: «Esta não é uma biografia habitual. É... como defini-la?; uma biografia romanceada?, uma novela biográfica? É, em todo o caso, a história que poderia ter sido».

As vidas de Kitxu e de Alba nunca se cruzaram. Ela perdeu a vida na guerra salvadorenha, defendendo a causa popular numa coluna guerrilheira do Ejército Revolucionario del Pueblo, em 1990. Ele caiu preso em 1994. Mas, graças ao trabalho de familiares e amigos do autor e da protagonista, conseguiu-se saltar barreiras impossíveis.

Neste livro assumiram uma importância capital os “leva-e-traz”, aqueles que puseram o autor em contacto com os testemunhos, os que colaram, documento a documento, a história de Alba na prisão de Dueñas. Precisamente hoje [12/06], a irmã de Kitxu - que também se chama Begoña – entregará o último molho de papéis, desta vez editados e encadernados, ao preso, que acaba de ser transferido de Palência para Valhadolide, uma prisão que a sua irmã descreve como «velha e estranha».

«Tem muita vontade de ver o livro - afirma Begoña Gonzalo. Amanhã, vamos-lhe levar seis exemplares, para que os assine e fique com algum. É o primeiro maço dos 15 que nos deram». Como explica a sua irmã, ter o livro pela primeira vez nas mãos «vai-lhe dar a força de que necessita». A narração de ¡Cómo no quererte Alba! prolonga-se por 142 páginas, a que se juntam um prólogo do autor - no qual aborda todas as limitações que teve e como as foi resolvendo -, um glossário de termos do castelhano da América Central e uma série de documentos (textos extraídos de notícias, comunicados e livros sobre a história de Begoña García) que o autor fez questão de destacar.

Kitxu, bilbaíno, trabalhou romance e poesia durante o seu tempo na prisão. É autor do livro de poemas Hace frío aquí en España (1998) e das obras novelísticas Carta a un fantasma (1997), Nadine (2000), La barca de Amín (2002) e El niño de Magüey (2006).

As palavras da activista
Porventura o documento mais contundente que escondem os anexos seja o da própria Alba. Trata-se da transcrição de uma cassete enviada aos seus pais uns meses antes de ser executada pelo Exército salvadorenho: «El presente no es que sea bonito; es que yo estoy haciéndolo bonito. Simplemente porque eso es lo que yo he decidido. Porque me he entregado en cuerpo y alma a lo que pienso que debo hacer y porque estoy satisfecha con lo que estoy haciendo». Nesse testemunho sonoro, uma missiva privada enviada aos seus pais, Begoña García Arandigoyen mostra-se dura e tragicamente premonitória: «Siempre dije que daría mi vida por un ideal y ahora ha llegado el momento de demostrarlo. [...] Pero es que mi propia vida ha dejado de ser de mi propiedad». Meio ano depois foi capturada e executada a sangue frio. Deram-lhe seis tiros, sendo fatal o que a atingiu na nuca. Tinha 24 anos e estava grávida de sete meses.

Aritz INTXUSTA

IÑAKI GONZALO
Kitxu licenciou-se em Filosofia, Jornalismo e Antropologia. Também se diplomou em Teologia. Trabalhou na Getxo Irratia e no diário Egin. No momento da sua detenção exercia o cargo de director da Egin Irratia.

BEGOÑA GARCÍA
Alba nasce em 1966. Habitante de Gares, estuda Medicina. Decide ir para El Salvador como activista mesmo tendo arranjado lugar no Hospital de Navarra. É executada extrajudicialmente em 1990.

Alguém deve seguir Begoña García
Uma das pessoas que tiveram um papel essencial na realização do livro ¡Cómo no quererte Alba! foi Xavier Vélez, vereador de Gares. Na altura da morte de Alba, era autarca e encarregou-se da cerimónia de despedida civil à activista. Vélez lembra que foi a primeira vez que se fazia algo assim na localidade e que «ali chorámos sem parar». O vereador de Gares define Alba como: «uma mulher que decidiu dar tudo por uma causa justa».

Na despedida em Gares participou Jesús Lezaun, que recordou as palavras do pai da jovem, quando a sua mulher lhe disse: «Lloremos; pero tenemos que aceptarlo, porque fuimos nosotros los que le inculcamos esto a Begoña». Outra frase dos pais, enviada à jovem quando se encontrava em El Salvador - «Queremos que alguien te releve» - foi o rastilho para que Kitxu se aventurasse no livro. Também para Vélez estas palavras foram marcantes e, por isso está orgulhoso de que a apresentação de ¡Cómo no quererte Alba! na sua terra fique nas mãos da Gazte Asanblada de Gares. O acto terá lugar no próximo dia 2 de Julho.
A.I.
Fonte: Gara e etengabe