Tiveram que chegar Patxi López e Rodolfo Ares a Ajuria Enea para que o servidor, pobre ignorante da História, radicalizado até à irracionalidade por leituras envenenadas, caísse na conta de que os bascos precisam de Espanha. Mais ainda, parece que aquilo de que precisamos é Espanha.
Não é que tenhamos essa necessidade para desfrutar de êxitos e satisfações desportivas. Para isso já contamos com um elenco de bons desportistas e clubes de todas as disciplinas. Dão-nos alegrias e tristezas suficientes. Também não parece que a nossa economia ou a nossa indústria tenham necessidade iminente de se ligar à espanhola e correr a sua triste sorte. Um tecido industrial e uma actividade económica sólida permitir-nos-ia fazer o nosso próprio caminho. E, dizem os especialistas, ainda ficaríamos melhor. Que querem que lhes diga da cultura! Temos a nossa e não renegamos as vizinhas, que também nos enriquecem. Mas para apreciar Cervantes ou Molière não precisamos de Espanha ou de França. Também não precisamos da Grã-Bretanha para ler Shakespeare nem da Rússia para Tolstoi. Não me falem da música e das artes. Eu fico com Mikel Laboa, Gari e Maialen Lujanbio, embora goste da rumba catalã, da poesia de Miguel Hernandez ou do bom flamenco. Não preciso de Espanha para começar a cantar sevilhanas diante de um prato de bom presunto e uns copos de xerez.
Mas López e Ares estão empenhados em convencer-nos - em inglês, note-se - de que precisamos de Espanha como o ar que respiramos. Revejo as necessidades do nosso povo e, verdade seja dita, não encontro uma só cuja solução passe por Espanha.
Precisamos de normalizar a nossa vida política e alcançar a paz. E isso parece mais difícil com Espanha que sem ela. E precisamos de pôr ordem na vida laboral, que os direitos dos nossos trabalhadores sejam respeitados no processo de criação de emprego e riqueza. E também vejo isso como mais simples no nosso próprio contexto que na contemporização sindical espanhola. Recuperar a nossa língua é, sem dúvida, um dos grandes desafios. Eu fio-me mais na AEK que no Ministério da Cultura espanhol.
Assim, não me ocorre por que precisamos tanto de Espanha. Talvez para nos garantirem um lugar num hotel de Benidorm quando nos reformarmos. Se Zapatero deixar que nos aposentemos, claro. E, além do mais, para ir ali nem sequer nos faria falta o passaporte. Somos europeus.
Martin GARITANO
jornalista
Fonte: Gara
Não é que tenhamos essa necessidade para desfrutar de êxitos e satisfações desportivas. Para isso já contamos com um elenco de bons desportistas e clubes de todas as disciplinas. Dão-nos alegrias e tristezas suficientes. Também não parece que a nossa economia ou a nossa indústria tenham necessidade iminente de se ligar à espanhola e correr a sua triste sorte. Um tecido industrial e uma actividade económica sólida permitir-nos-ia fazer o nosso próprio caminho. E, dizem os especialistas, ainda ficaríamos melhor. Que querem que lhes diga da cultura! Temos a nossa e não renegamos as vizinhas, que também nos enriquecem. Mas para apreciar Cervantes ou Molière não precisamos de Espanha ou de França. Também não precisamos da Grã-Bretanha para ler Shakespeare nem da Rússia para Tolstoi. Não me falem da música e das artes. Eu fico com Mikel Laboa, Gari e Maialen Lujanbio, embora goste da rumba catalã, da poesia de Miguel Hernandez ou do bom flamenco. Não preciso de Espanha para começar a cantar sevilhanas diante de um prato de bom presunto e uns copos de xerez.
Mas López e Ares estão empenhados em convencer-nos - em inglês, note-se - de que precisamos de Espanha como o ar que respiramos. Revejo as necessidades do nosso povo e, verdade seja dita, não encontro uma só cuja solução passe por Espanha.
Precisamos de normalizar a nossa vida política e alcançar a paz. E isso parece mais difícil com Espanha que sem ela. E precisamos de pôr ordem na vida laboral, que os direitos dos nossos trabalhadores sejam respeitados no processo de criação de emprego e riqueza. E também vejo isso como mais simples no nosso próprio contexto que na contemporização sindical espanhola. Recuperar a nossa língua é, sem dúvida, um dos grandes desafios. Eu fio-me mais na AEK que no Ministério da Cultura espanhol.
Assim, não me ocorre por que precisamos tanto de Espanha. Talvez para nos garantirem um lugar num hotel de Benidorm quando nos reformarmos. Se Zapatero deixar que nos aposentemos, claro. E, além do mais, para ir ali nem sequer nos faria falta o passaporte. Somos europeus.
Martin GARITANO
jornalista
Fonte: Gara