sexta-feira, 9 de julho de 2010

Lição de resistência


Os restantes 10 958 também não foram muito mais simpáticos. Passou cada um desses dias a centenas de quilómetros da sua casa, num espaço diminuto onde o horizonte não tem razão de ser e as condições de vida não sabem o que é humanidade.

Os seus familiares, aqueles que andam há três décadas a viajar todos os fins-de-semana, os mesmos que no sábado levavam com firmeza a faixa em Zornotza, são, como Gatza, a viva imagem do compromisso.

Da mesma forma que o preso mais longevo, Arkaitz Agirregabiria, preso há dois meses atrás, iniciou o seu período de encarceramento com uma dura luta para protestar contra o isolamento a que está submetido. Faz hoje um mês que não ingere alimentos e está determinado a manter a sua luta até que a sua reivindicação seja atendida.

Agirregabiria e Gatza são apenas dois exemplos de todo um colectivo em luta. Os mais de setecentos presos que compõem este Colectivo iniciaram em Janeiro último uma dinâmica de luta na qual recorrem ao pouco que está ao seu alcance para lutar. Os poucos minutos no exterior da cela, as comunicações com os seus seres queridos... são capazes de renunciar a tudo isso pelo bem comum, para darem a sua contribuição para a resolução do conflito que vivemos e que tanta angústia gera.

Pelo contrário, não é tarefa fácil encontrar gente que erga este testemunho de luta na sociedade. A comodidade em que vivemos, por mais que os tempos de crise nos abanem, parece causar impacto e condicionar a capacidade mobilizadora. No entanto, é preciso perceber com clareza que o processo que nos permitirá alcançar o exercício do direito à autodeterminação só será uma realidade se for alimentado, trabalhado e urdido por agentes e cidadãos, sem descanso e com confiança.

Oihana LLORENTE
jornalista
Fonte: Gara