sábado, 24 de julho de 2010

Nem a chuva forte nem os gendarmes metem medo à enorme maré basca


O Tour viveu a sua jornada climatológica mais adversa. Os milhares de aficionados bascos que acamparam no Tourmalet sofreram com as chuvas fortes, mas nem o tempo nem as medidas dos gendarmes impediram que as camisolas laranjas, as ikurriñas e as reivindicações fossem protagonistas.

Foram uma noite e uma manhã terríveis nos campos situados em ambos os lados da estrada que vai de Barèges até ao alto do Tourmalet. Na quarta-feira, a meio da tarde, uma névoa espessa cobriu toda a subida e começou logo a chover com muita intensidade. A grande maioria dos bascos que ali se deslocaram pensava passar a noite nas tendas, mas foi tal a quantidade de água caída que muitos tiveram de dormir, pouco e mal, nos carros.

Todos os aficionados se mantiveram resguardados até parar de chover. A água e a decisão dos gendarmes de impedir a subida de bicicleta, na quinta-feira, ao Tourmalet levou a ESAIT a suspender a marcha ciclista prevista para a parte da manhã, depois de ter realizado sem problemas as restantes actividades. Os polícias também impediram os membros da coordenadora basca de distribuir na quinta-feira as cartolinas que se puderam ver por estes dias na subida ao Tourmalet, nas quais aparece uma ikurriña e a reivindicação da oficialização das selecções bascas, que foram muito bem acolhidas.

Os gendarmes estiveram muito activos e também confiscaram uma boa parte das fotografias que os familiares de presos políticos bascos queriam exibir na subida ao Tourmalet. O que não conseguiram impedir foi que milhares de bandeiras com o lema «Euskal Presoak, Euskal Herrira» (os presos bascos para o País Basco) se vissem nas subidas de todos os pontos altos.

Depois da tempestade, a calma
O tempo quase não deu tréguas aos milhares de aficionados que se deslocaram ao Tourmalet para ver a passagem dos corredores. A maioria esteve ali acampada três dias. A presença de público foi enorme, com os bascos, as ikurriñas e as camisolas laranjas em maioria, mas havia gente de todos os países, que deram colorido à subida mais esperada.

Entre os milhares de bascos que foram até ao Tourmalet, destacavam-se os 160 que compunham o grupo organizado por Mikel Lizarralde, que foi ciclista profissional da Orbea na época de Jokin Mujika e Pello Ruiz Cabestany. Está à frente de duas lojas de bicicletas em Arrasate e Oñati, e há 17 anos que organiza uma ida ao Tour, nos Pirinéus, que este ano atingiu o seu maior número de participantes, ao juntar 160 adeptos da zona de Debaldea (Gipuzkoa). Destes, metade eram jovens que tinham ido de bicicleta, por etapas, desde Iruñea até Barèges, onde colocaram uma infra-estrutura em que se destacavam dois camiões, um deles frigorífico, para manter em bom estado a comida e a bebida.

«Com os mais velhos estamos mais tranquilos, mas na terça-feira chegou a rapaziada toda e fomos ultrapassados. Porque estes andam muito de bicicleta - na quarta-feira subiram o Tourmalet desde Luz St Sauver - e comem e bebem bem», dizia-nos, bem-humorado, Lizarralde.

No princípio, é uma actividade iniciada pelas peñas Aitor Garmendia, Markel Irizar e Jon Odriozola, mas ele é a alma mater: «Meti-me nestas andanças e com gosto, porque vejo que as pessoas desfrutam e ainda ajudam», explica, enquanto dão de comer a toda a tropa, e num momento mobiliza toda a gente para posar para a fotografia.

E na foto pode-se ver a quantidade de gente jovem que combina a paixão pelas bicicletas com as férias. E isso é garantia de que, no futuro, por muito que chova e por muitos engarrafamentos que haja, como o de quinta-feira para descer do Tourmalet, a maré laranja, vermelha, verde e branca continuará fiel ao seu encontro anual com as etapas dos Pirinéus no Tour.

Joseba ITURRIA
Fonte: Gara