O registo da moção de censura contra o primeiro edil de Azpeitia por parte do PNV e do Eusko Alkartasuna teve a resposta de quinze autarcas independentistas, que criticaram a atitude destes dois partidos. Acusaram os jeltzales de “tentarem alcançar desde a Sabin Etxea o que não conseguiram no terreno”, e afirmaram temer que na prática do EA exista um “cálculo político”. Avisaram que a moção afasta o país da solução do conflito.
Enquanto em Azpeitia os edis do PNV e do EA procediam ao registo da moção de censura contra o autarca, Iñaki Errazkin, este, acompanhado por outros quinze presidentes de câmara independentistas, comparecia em Donostia para alertar que a “criminalização e o isolamento da esquerda abertzale afasta o povo basco da solução”.
Os primeiros edis de Elorrio e Urretxu, Niko Moreno e Iñaki Zabala, respectivamente, fizeram de porta-vozes, para denunciar que a moção de censura que será debatida no próximo dia 17, além de ser “concebida fora de Azpeitia”, “só responde a interesses partidários e de negócio”; “o PNV procura conseguir agora e a partir dos gabinetes da Sabin Etxea o que não alcançou no terreno”, defendeu Moreno.
Embora a moção ontem registada no Município de Azpeitia tenha sido promovida pela formação jeltzale, foi a rúbrica do vereador do EA Mikel Ibarzabal que fez com que a iniciativa pudesse seguir por diante, o que tornou o partido de Unai Ziarreta também num alvo de duras críticas por parte dos autarcas independentistas. Qualificaram de “inaceitável, denunciável e hipócrita” a sua atitude e criticaram o facto de “terem cedido às pressões da comunicação social e da dupla PSE-PNV”, “ao mesmo tempo que apelidam a prática do PNV de necrofagia política”.
Não tiveram dúvidas em considerar “difícil” a actual situação política e afirmaram que esta requer “audácia e responsabilidade”, sendo também por isso que vêem “com bons olhos a decisão do EA de não se apresentar em coligação com o PNV” às próximas eleições autonómicas; “e mais ainda – prosseguiu Moreno – ao conhecer as razões que levaram a formação de Unai Ziarreta a optar por este caminho”, que, segundo precisaram, foram “a rejeição da intenção manifestada pelo PNV de realizar um novo pacto com o Estado, renovando a aposta no actual marco constitucional estatutário, que prolonga o conflito, e a necessidade de proceder à articulação de um bloco soberanista que impeça esta fraude e possibilite a criação de um cenário democrático”.
Contudo, o facto de o EA ter decidido abandonar o governo municipal de Azpeitia, primeiro, e oferecido o seu apoio à moção de censura, depois, gerou dúvidas, no entender de Moreno, quanto ao “verdadeiro compromisso” desse partido, pelo que mostrou algum receio de que, “por detrás dessa retórica, exista um cálculo político para se tentarem aproveitar do apartheid que a esquerda abertzale sofre”
A favor da solução
Os autarcas independentistas, entre os que se encontravam os de Usurbil, Arrasate, Bergara ou Igorre, deram o seu apoio à atitude mantida por Errazkin e pelos vereadores independentistas perante a morte do empresário Inazio Uria. Neste sentido, realçaram que, enquanto nalguns dicionários “só existe a palavra ‘condenação’, no da esquerda abertzale também aparece a palavra ‘solução’”.
E foi exactamente isso o que pediram na conferência de imprensa: uma solução baseada no respeito por todos os direitos de todos os cidadãos de Euskal Herria, para que assim se garanta o seu direito a decidir sobre o futuro do país.
Asseguraram que essa é a “verdadeira origem” do conflito político e armado que fustigam o povo basco e, como tal, sublinharam que esse é “o nó que é preciso saber desembaraçar”. Referiram também que a morte de Uria, “além de gerar tristeza e desolação, deixa a descoberto a necessidade urgente de solucionar o conflito”.
Na perspectiva dos autarcas independentistas, trabalhar a favor da solução do conflito deveria ser uma questão prioritária, pelo que perguntaram ao lehendakari, Juan José Ibarretxe, “como pretende abordar esse tarefa”.
Moreno afirmou que tanto Ibarretxe como a sua formação “apenas se preocupam com eleições e moções de censura”, e voltou a dirigir-se-lhes para perguntar se este tipo de iniciativas “tornam a solução mais distante ou mais próxima”.
O primeiro edil elorrioarra mostrou-se convencido de que os métodos cujo fito é “isolar e criminalizar” a esquerda abertzale afastam o país da solução definitiva, e lembrou que este tipo de receitas “já foi anteriormente ensaiado”.
Como exemplo, trouxe à colação as moções apresentadas há alguns meses em nome da “ética” e que, segundo Moreno, fracassaram por dois motivos: “porque a maioria deste país não apoia as receitas baseadas na marginalização e porque por detrás desta iniciativa só existiam interesses partidários e nenhuma defesa dos interesses do povo”, afirmou.
Moreno mostrou-se orgulhoso de eles e elas, em alusão aos autarcas independentistas, “quererem e poderem” responder às questões que levam à solução do conflito; e referiu que a esquerda abertzale “historicamente sempre colocou em cima da mesa ofertas e propostas que pudessem trazer uma solução definitiva” a este país.
Antes de dar por concluída a conferência, os autarcas independentistas manifestaram a sua adesão à manifestação convocada pela esquerda abertzale de Azpeitia para este sábado, a partir das 18h.
Oihana LLORENTE
Fonte: Gara
Excerto da conferência (em castelhano).