quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Um passeio por setenta anos de história em papel ou num click


Pays Basque 1860-1930. Un monde intemporal? (editorial Pimientos) é o título de um livro-catálogo publicado pelo Museu Basco de Baiona, um compêndio de fotografias antigas que mostram os hábitos dos nossos antepassados e que procura oferecer-nos uma imagem que vá mais além do puramente folclórico. Este museu de Lapurdi faculta ainda aos internautas o acesso gratuito a 3000 fotos de toda a Euskal Herria através dos serviços da sua fototeca.

A comprar hortaliças nos mercados, retratos de família, fiéis que vão à missa, jogadores de pelota nas praças das aldeias... Cerca de trezentas fotografias obtidas entre 1860 e 1930 conformam o livro que o Museu Basco de Baiona publicou. São uma pequena parte de uma colecção composta por cerca de 5000 instantâneos e placas de vidro, todas elas obtidas em Ipar e Hego Euskal Herria [País Basco Norte e Sul] entre 1860 e as vésperas da Segunda Guerra Mundial.

Este livro surge como sequência da exposição que o museu acolheu até Novembro. As fotos mostram a vida que levavam os nossos ancestrais, bem como as grandes mudanças sofridas na vida rural em diferentes épocas, como o impacto que teve a chegada do comboio ou dos primeiros barcos a vapor atracados no porto de Baiona. Também permitem descobrir a comunidade cigana, que esteve bastante presente em Euskal Herria até à década de 1930. Surpreendentemente, trinta fotos são a cores, tiradas por volta de 1910 com recurso à heliocromia criada por Louis du Hauron em 1860.

Interesse pelo rural
Apesar da grande quantidade de imagens recolhidas, os responsáveis do museu e pela publicação do livro asseguram que “uma grande parte da realidade social está ausente, já que a objectiva da câmara só capta o que o fotógrafo quer mostrar”. Naquela época, a maioria dos fotógrafos viviam na cidade e, quando visitavam o ambiente rural, ficavam fascinados com as quintas, os mercados ou com os trabalhos que as mulheres desempenhavam, e é isso que se reflecte nas primeiras imagens. Como se refere no prólogo assinado por Jacques Batesti, um dos responsáveis pela conservação do museu, em finais do século XIX a fotografia serviu, pelo menos em Ipar Euskal Herria, como “ilustração dos discursos dominantes da época, que, como Pierre Loti (autor de Ramuntcho), apresentavam esta terra como um espaço fora do tempo, um lugar de paz e ao abrigo dos tormentos e da uniformidade do mundo moderno”. Uma imagem idílica e pitoresca sobre o mundo rural que, naturalmente, tinha muito pouco a ver com a realidade. Ao trazer para a luz os fundos fotográficos do Museu Basco de Baiona, aquilo que se procura é precisamente romper com essa imagem.

A história da fotografia de Euskal Herria começa por volta de 1855. John Stewart e Marwell, fotógrafos da escola de Pau, começam a retratar principalmente as praias de Biarritz e Donostia. A imagem mais antiga que o museu pôde conseguir foi obtida entre 1856 e 1857. Nela se pode apreciar o início de uma construção no Aturri. Durante aqueles primeiros anos, a arte de fotografar dedicou-se a imortalizar paisagens e a realizar retratos. Foi a partir de 1870 que se deu uma alteração considerável e se tomou uma nova perspectiva através de imagens de pessoas anónimas. O impulsor desta mudança foi sobretudo Delaunet. No segundo capítulo, encontramos reflectida uma Euskal Herria em constante evolução. Ganha realce a presença dos barcos a vapor nos portos ou o turismo crescente que inunda as praias. No final do livro, com as fotos dos anos 20, assiste-se à tentativa de sobrevivência do mundo tradicional face ao ataque da modernidade.

O museu digitalizou uma grande parte da colecção e colocou 3000 fotos na sua página de Internet, com acesso gratuito. São imagens de toda a Euskal Herria, de autores anónimos e de alguns bastante conhecidos, que permitem também fazer um trabalho de detective na web.

Ane ARRUTI

Fonte: Gara