Arnaldo Otegi considera que o julgamento que começará amanhã no Tribunal Superior de Justiça do País Basco, que o fará sentar-se no banco dos réus juntamente com outros representantes abertzales, Ibarretxe e dirigentes do PSE, seria “impossível” em qualquer outro lugar da Europa e afirmou que no banco dos réus se sentará “a natureza antidemocrática do Estado espanhol”.
Na sua primeira aparição perante os órgãos de comunicação desde que abandonou a prisão, a 30 de Agosto, Arnaldo Otegi esteve acompanhado pelos representantes abertzales Arantza Urkaregi, Txelui Moreno, Miren Legorburu, Tasio Erkizia, Julen Aginako e Santi Kiroga. Todos exibiram as fotografias de Pernando Barrena, Juan Joxe Petrikorena, Olatz Dañobeitia e Rufi Etxeberria, que amanhã se irão sentar no banco dos réus ao lado do próprio Otegi, de Juan José Ibarretxe, Patxi López e Rodolfo Ares.
Otegi qualificou o julgamento como “uma farsa”, e destacou que no banco vão estar sentados “os que fizeram a Lei de Partidos, os que dizem que não a apoiam mas tiram benefícios dela” e “os que a tiveram que aguentar durante todo este tempo”.
Recordou que esta audiência “grotesca”, que na sua opinião seria “impossível” “noutras latitudes europeias”, tem a sua origem na “concepção antidemocrática que agora cumpre 30 anos e que foi acentuada na chamada transição” e, face a isso, contrapôs “a maioria popular de Euskal Herria”, que “pretende construir o seu futuro com base em parâmetros diferentes e em termos democráticos”.
O dirigente independentista referiu que, à falta de “razões democráticas”, Madrid “sempre” enveredou pela “força e pela coacção”, e destacou que este julgamento é “mais um capítulo” nessa “interminável lista de instrumentos” que “permitem verificar de forma muito clara o absurdo” do “aparelho repressivo que o Estado espanhol concebe contra a negociação, o diálogo e uma saída democrática para o conflito”.
Para Otegi, com este processo demonstra-se que “falar, dialogar, procurar soluções, e não culpados, é algo que se pode perseguir” no Estado espanhol, o que “chamará a atenção dos inúmeros meios de comunicação internacionais que hão-de estar presentes na audiência”.
Caso único na Europa
“Vai ser o único caso na Europa em que os interlocutores de um processo de negociação vão estar sentados no banco dos réus por procurarem soluções, e não culpados”, disse.
Realçou que, desde que o processo de negociação terminou, “não mudou nada” e que o conflito político continua a existir, sendo que o julgamento de amanhã “volta a evidenciar que em Euskal Herria há um conflito político e que o Estado não tem um problema com a esquerda abertzale nem com uma sigla ou um conjunto de siglas, mas com a maioria popular que quer decidir de forma livre e pacífica e em termos democráticos o seu futuro, como o vão fazer os Escoceses, os habitantes da Gronelândia ou os Irlandeses”, sublinhou.
“Essa é a grande alternativa que alguns tomam como inaceitável, votar livre, democrática e pacificamente o nosso futuro como país”, e isso “não vai mudar, nem se pode enfrentar com tribunais, nem com polícias, nem com exércitos”, mas sim “a partir de uma mesa de negociação, aceitando que é a vontade popular a que delimita o seu futuro político e institucional”.
Otegi mostrou-se convencido de que isso, “mais tarde ou mais cedo, terá que acontecer, porque os problemas políticos solucionam-se em termos políticos, mediante o diálogo político”, e “não há outra solução”.
Neste sentido, referiu que a esquerda abertzale “não procura culpados, mas soluções”, e por isso continuará a reivindicar a negociação e o diálogo desde o banco dos réus, bem como a necessidade de articular um processo democrático.
Fonte: Gara
Excerto da conferência de imprensa (cast).