Arnaldo Otegi compareceu hoje juntamente com Alex Maskey, deputado do Sinn Féin na Assembleia de Stormont que estará presente na audiência oral que se iniciou ontem no TSJPB como observador independente.
O porta-voz independentista basco destacou que o julgamento não se está a processar “em termos jurídicos” porque “todos compreendem que dialogar dificilmente pode ser considerado um delito onde quer que seja”, e por isso salientou que se trata na realidade de “uma tentativa de ajuste de contas com o último processo de negociação e, fundamentalmente, com a esquerda abertzale”, que pretendem “deslegitimar” como interlocutora.
Recordou que, quando o processo de negociação se desenrolou, “houve inúmeras associações, partidos políticos, membros da magistratura e da oposição que procuraram, desde o início, torpedear qualquer tentativa de saída pacífica e democrática”, e asseverou que a audiência oral “não é mais do que um episódio consequente de uma estratégia determinada clara” para “negar legitimidade política à esquerda independentista como interlocutor”.
“E é disso que se trata, neste e em todos os julgamentos dos últimos anos em que nos vemos afectados”, insistiu.
Uma das consequências disso é que, tal como salientou, quatro dos acusados estejam presos.
Otegi insistiu na ideia de que “dificilmente se poderá propiciar neste país um cenário de paz e democracia sem a participação da esquerda abertzale, dos socialistas, do PNV, da UPN e até do PP, que se auto-exclui deste tipo de dinâmicas”. “Todos sabem, incluindo o Estado, que não existirá uma solução pacífica e democrática sem a esquerda abertzale”, acrescentou.
O político de Elgoibar lembrou que a esquerda abertzale sempre concebeu uma solução para o conflito em termos pacíficos e democráticos, através do diálogo e da negociação, e reiterou o “compromisso pessoal e político dos independentistas de esquerda” nesse sentido.
Apoio a uma saída democrática
Por seu lado, Alex Maskey afirmou que a sua presença no julgamento tem como objectivo dar apoio a “uma solução democrática do conflito e ao direito à autodeterminação do povo basco”, e considerou “um erro tremendo criminalizar o diálogo”, que foi o que conduziu “ao êxito” do processo de resolução do conflito irlandês.
“Para nós é evidente, cremos que as experiências da Irlanda e da África do Sul, entre outras, nos dão exemplos do modo como se podem resolver conflitos através do diálogo. O diálogo conduz à negociação, e a negociação à resolução política dos conflitos”, realçou.
Maskey chamou a atenção para o facto de num conflito “existirem sempre duas vias possíveis: uma, a que nos leva a Gaza, e outra, a que nos leva à África do Sul”.
Assim, fez um apelo aos agentes envolvidos neste conflito, “incluindo o Governo espanhol, para que retomem o diálogo e se possa avançar em direcção a um processo democrático de resolução de conflitos”.
O deputado irlandês também se referiu às associações “de vítimas do conflito” que constituem a acusação e que, na sua opinião, pretendem “desenvolver estratégias diversas”. Afirmou compreender a sua atitude mas também disse não ser favorável à “obstrução”, por parte desses colectivos, “do diálogo presente ou futuro”, porque “a maneira de avançar nos objectivos das vítimas dos conflitos é procurar assegurar, antes de mais, que não existam mais vítimas, e isso só se pode alcançar através do diálogo pacífico”.
Fonte: Gara
Análise política: Golpe_de_teatro_em_vésperas_da_campanha_eleitoral (cast), por Iñaki Iriondo