terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Isto não é a aplicação da Lei de Partidos, há pessoas na prisão

Desde ontem oito pessoas com nomes próprios e apelidos – Amparo Lasheras, Iñaki Olalde, Arantza Urkaregi, Imanol Nieto, Eli Zubiaga, Iker Rodrigo, Hodei Egaña e Agurtzane Solaberrieta –, com família, com muita gente que os quer e os respeita – como uma mulher navarra que ligou de manhã para o GARA porque não via outra forma de mandar um abraço a Amparo Lasheras –, encontram-se encarceradas na prisão madrilena de Soto del Real. Da noite para o dia, não só todos os seus direitos políticos ficaram suspensos, mas também se suspenderam todos os seus projectos, os seus planos de vida. Numa sorte de lotaria macabra, o Ministério do Interior e a Audiência Nacional decidiram apanhá-los. O seu delito, independentemente do modo como se veja, não é senão o de tentar apresentar-se às eleições de 1 de Março, o que, tratando-se de pessoas vinculadas à esquerda abertzale, é encarado por Baltasar Garzón como obediência às ordens da ETA, embora não exista prova alguma de que jamais tivessem recebido tal ordem, nem sequer de que ela existisse. Que importância é que isso tem?

Com esta operação político-judicial, o Estado rompe com a inércia de anteriores eleições, que se centrava na busca da proscrição de candidaturas pela via civil, sem entrar na penal. Mas desta vez deu-se um importante salto qualitativo, que junta o sofrimento pessoal – castigo individualizado e cruel aviso a navegantes para futuras eleições – à negação colectiva de direitos políticos.

Contudo, a maior parte das reacções a esta operação – tanto as favoráveis como as contrárias – continuam na mesma linha suscitada por proibições de candidaturas anteriores, com o acrescento obsceno de que algumas respostas até insinuam uma certa conivência ou jogo comum de conveniência entre ilegalizadores e ilegalizados.

Assim, deslizando pelo escorrega da despreocupação e acrescentando a falsa declaração de velar por todos os direitos para todos, políticos e convivas de tertúlia ficam todos contentes dizendo que são contra a Lei de Partidos mas que a esquerda abertzale sabe bem o que tem de fazer para poder concorrer às eleições. E em seguida mostram-se doridos pelos silêncios de porta-vozes independentistas (mais por não dizerem o que eles querem) em relação aos atentados da ETA, exibindo assim uma espécie de superioridade moral própria. Tudo isso, talvez, sem se darem conta (ou nem quererem) de que a Lei de Partidos não tem nada a ver com isto. O que se passa é que estão a mandar para a prisão pessoas por se quererem apresentar às eleições.

Iñaki IRIONDO

Fonte: Gara