«O grupo público de comunicação EITB cumpre o seu trabalho informativo como serviço público?» foi a pergunta que serviu de abordagem ao estudo encarregado pela fundação Ipar Hegoa do LAB sobre a informação emitida pela entidade pública. Com os dados obtidos a partir de quase 1100 notícias, o sindicato abertzale responde que procura entreter mais do que informar, e que torna invisível a realidade política e territorial de Euskal Herria, com uma clara utilização partidarista.
O grupo informativo EITB «aposta na 'não informação'», «Euskal Herria» desapareceu praticamente da sua terminologia e é clara a «utilização partidarista dos serviços noticiosos». São as três conclusões principais de um estudo realizado pela Aztiker, a partir da análise dos serviços noticiosos deste grupo público, financiado pelo Governo de Gasteiz, embora com difusão noutros herrialdes de Euskal Herria que não os da CAB.
O estudo, efectuado por iniciativa da fundação para estudos sindicais Ipar Hegoa do sindicato LAB, centrou-se na análise de 1065 notícias de 28 serviços noticiosos de todas as cadeias do grupo correspondentes a cada dia da semana entre os meses de Setembro e Dezembro de 2010. A análise centra-se em questões como os acontecimentos que são alvo de informação, a terminologia que é utilizada, os espaços que ocupam, as imagens e os protagonistas da informação, «instrumentos de definição do pensamento colectivo», segundo precisam.
Embora a análise tenha sido dividida em três secções, em função do quadro geopolítico, do tratamento da informação com base numa perspectiva de género ou colocando o foco de incidência no factor socioeconómico, representantes da fundação Ipar Hegoa e responsáveis da análise da Aztiker abordaram na segunda-feira a parte correspondente ao âmbito geográfico das notícias, a sua hierarquização, bem como o tratamento e o protagonismo concedido às diferentes questões políticas.
«Está tudo bem»
A partir das cerca de 1100 notícias analisadas da ETB e ETB2, Euskadi Irratia e Radio Euskadi a primeira constatação é a de que os espaços informativos da entidade pública basca dedicam mais tempo ao desporto do que à política ou à economia e que o futebol é o protagonista indiscutível da informação desportiva. A partir destes elementos, a responsável da área de Serviços Públicos do sindicato LAB, Arantxi Sarasola, referiu na segunda-feira que a leitura que se pode fazer é a de que os serviços noticiosos possuem clara vocação de «passatempo» e a intenção de transmitir o «está tudo bem» ou o «aqui não se passa nada».
Da observação do âmbito geográfico destaca-se, entre outras questões, o facto de 50,6% das notícias que aparecem nos titulares ocorrerem na CAB, 16,8% no Estado espanhol, ou de «22,2% das notícias importantes acontecerem em Espanha e 33% na CAB».
«Apesar de serem fundamentalmente informações da CAB, pode afirmar-se que se procuram notícias que têm alguma influência no Estado espanhol», salientam os impulsores do estudo. Por outro lado, precisa-se também que as expressões terminólogicas mais utilizadas são Euskadi (29,1%) e Espanha (24,7%), enquanto a expressão Euskal Herria aparece apenas em 8,5% dos casos e sobretudo na Euskadi Irratia.Para o LAB, o objectivo dos actuais gestores da entidade pública consiste em «esfumar e evitar» qualquer elemento de identificação basca «que vá para lá da ordem jurídica política estabelecida» e a primeira vítima desta estratégia é Euskal Herria, numa tendência que se iniciou com o mapa do tempo e se consolidou em todos os âmbitos de informação.
Outra das constatações evidenciadas esta segunda-feira, com base em dados, é a de que o tempo de visibilidade das diferentes sensibilidades políticas não corresponde à representação das mesmas, mas antes aos interesses particulares da entente PSE-PP.
Não é novo, mas é mais «grosseiro» e gera «tensões»
«Apesar de as críticas à parcialidade do grupo EITB serem mais intensas nos últimos dois anos, na fundação pensamos que a utilização dos serviços noticiosos dos meios de comunicação públicos de forma partidarista e como instrumento do governo de turno não é uma situação nova; mais ainda, julgamos que sempre foi assim», afirmou a Ipar Hegoa, referindo em seguida que talvez seja «a grosseira utilização actual» o que faz que a situação seja «insuportável». Abordaram ainda a questão da «criação de opinião», que nos últimos tempos se desenvolve também a partir de instrumentos como as tertúlias, algo que o estudo não abrange, mas que, segundo apontaram, ocupa mais tempo que os serviços noticiosos.
Segundo indicaram, esse tratamento da realidade tem a ver com a queda da audiência, de taxas entre 23 e 24% em 2004 para audiências a rondar os 9,4%, de acordo com dados de Outubro de 2010, e com «tensões» no seio do colectivo de trabalhadores tratados à base de «autoritarismo» e «precariedade», sob «ameaças» e «sanções».
Nerea GOTI
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