segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Estrasburgo rejeita a doutrina 197/2006 e decreta a libertação de Del Río

O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (TEDH) indeferiu o recurso do Governo espanhol contra a decisão favorável à presa política Inés del Río que divulgara em Julho do ano passado, considerando que a doutrina 197/2006 viola a Convenção Europeia dos Direitos do Homem.

Estrasburgo decidiu por 15 votos contra dois que «houve violação do artigo 7.º» da Convenção Europeia dos Direitos do Homem («não há pena sem lei» que a sustente). Para além disso, confirmou, por unanimidade, que a queixosa foi alvo de uma detenção «não legal» desde 3 de Julho de 2008, o que configura uma violação do artigo 5.1 (direito à liberdade e à segurança).

Por 16 votos contra um, a Grande Sala afirma que, «vista a necessidade urgente de pôr fim às violações constatadas», corresponde às autoridades espanholas «garantir» a libertação da presa «o mais brevemente possível».

De acordo com a sentença, Del Río «não podia prever» que a jurisprudência seria alterada com a chamada doutrina Parot, nem que «a Audiência passasse a aplicar os benefícios penitenciários a cada uma das penas impostas de forma separada e não à pena máxima de 30 anos».

Indemnização de 30 000 euros
Por dez votos contra sete, a Grande Sala ordena ao Estado espanhol que pague, num prazo de três meses, uma indemnização de 30 000 euros a Inés del Río, por «danos morais».
Por unanimidade, ordena ao Estado espanhol que pague à queixosa o montante de 1500 euros por custas judiciais.

Primeiro recurso que chega a Estrasburgo
O recurso interposto por Inés del Río foi o primeiro contra a sentença 197/2006, conhecida como «doutrina Parot», que chegou ao TEDH.
A medida referida foi aplicada à presa de Tafalla em Junho de 2008. A sua defesa recorreu para Estrasburgo invocando o artigo 7.º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem e denunciando a aplicação retroactiva da jurisprudência do Supremo Tribunal.

Defendeu que a sua permanência na prisão violava o artigo 5.º, apelou para o artigo 14.º, e considerava que a nova jurisprudência foi aplicada pelos tribunais espanhóis com um objectivo político e para atrasar a libertação das pessoas condenadas por «terrorismo».

A tafallesa foi detida a 5 de Julho de 1987; está há 25 anos na prisão. A AN espanhola anunciou que irá estudar amanhã a sua libertação. / Ver: naiz.info / Ver: Berria

Doutrina Parot: Cronologia / Lista de 56 presos que devem ser libertados  

Sentença do TEDH (ing / fra) / Comunicado de imprensa do tribunal  

OS ADVOGADOS DE INÉS DEL RÍO VÃO PEDIR A LIBERTAÇÃO DOS OUTROS 55 PRESOS
Numa conferência de imprensa em Bilbo, Amaia Izko e Ainhoa Baglietto, porta-vozes da equipa de advogados de Inés del Río, anunciaram que vão pedir, nas próximas horas e dias, a libertação imediata dos outros 55 presos bascos afectados pela doutrina 197/2006. Depois da decisão do Tribunal de Estrasburgo, estes advogados consideram-na «morta». / Ver: naiz.info e Berria

VITÓRIA DA DETERMINAÇÃO DE UM POVO
Em comunicado, a organização juvenil Ernai manifestou a sua satisfação com esta decisão judicial e afirmou que é «uma vitória da determinação deste povo». Considera, no entanto, que a decisão «chega tarde» e que é essencial «prosseguir com a luta», pois, para além da doutrina 197/2006, o Estado espanhol aplica outras medidas de excepção aos presos bascos, como a dispersão ou a permanência na cadeia daqueles que estão doentes. / Ver: topatu.info  

FOTOS: MILHARES NAS CONCENTRAÇÕES
Milhares de pessoas participaram nas concentrações que hoje se realizaram nas capitais de Hego Euskal Herria para receber a sentença de Estrasburgo. Para o final da tarde, foram convocadas concentrações para as 19h30 em Bilbo, Donostia e Gasteiz e para as 20h00 em Iruñea. (naiz.info)  

Etxerat: «La asociación Etxerat valora la resolución de Estrasburgo sobre el caso de Ines del Rio» (lahaine.org)
Primero, queremos mostrar nuestra alegría y queremos felicitar a la sociedad vasca por todo el trabajo que ha realizado en contra de la doctrina 197/2006. / Aunque no podemos olvidar que los derechos de nuestros familiares y amigos siguen siendo vulnerados. Y ante esto será necesario el trabajo y la implicación de toda la sociedad

Borroka Garaia: «Sin bajar la guardia» (BorrokaGaraiaDa)
Hay motivos para que la sociedad vasca esté satisfecha tras lo ocurrido en Estrasburgo pero los mismos o más para mantener el nivel de alerta o incluso incrementarlo. La lucha a favor de los derechos de los presos y la presión social tiene que aumentar. / Ines eta besteak etxera!