quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Julgamento: denúncias graves de torturas e defesa do trabalho político marcam terceira sessão

Tal como as sessões anteriores, a de hoje ficou marcada por vários testemunhos de maus-tratos exercidos nas esquadras. A AN espanhola emitiu uma ordem de detenção contra os quatro jovens que não se apresentaram ao julgamento: Irati Mujika, Idoia Iragorri, Unai Ruiz e Goizane Pinedo, que tornaram pública a sua decisão num vídeo. O julgamento prossegue no dia 24 deste mês.
O primeiro a depor hoje foi Carlos Renedo, que defendeu que, para mudar a realidade, é preciso haver compromisso e luta. Afirmou: «Aqui está uma juventude comprometida. Somos o futuro de Euskal Herria».  

Zuriñe Gojenola começou a sua intervenção em euskara mas teve de passar para castelhano, devido à má tradução. «Sou militante política há muitos anos e continuo a sê-lo: encontrar-me-ão nas mobilizações contra a reforma das pensões de Madrid, a favor dos presos políticos, no feminismo, no ecologismo», disse. Referiu-se também à sua ida para Roma, onde foi detida, para evitar ser torturada.

Jon Liguerzana afirmou, tal como os seus companheiros, que está a ser julgado pela sua militância política e que as declarações policiais foram efectuadas sob tortura.

Néstor Silva disse que, quando não há denúncia de tortura, não há declarações de culpa, e contou que a Polícia o obrigou a aprender a declaração «ao estalo». Afirmou também: «Estamos a ser julgados pela nossa militância política».

Jagoba Apaolaza também realçou os maus-tratos sofridos na esquadra. Disse que foi constantemente pressionado e que, apesar de se ter recusado a fazer o exame de ADN, o obrigaram. «Se não respondia o que eles queriam, obrigavam-me a pôr-me de gatas, nu. Tinha os braços negros», disse. Apesar de ter denunciado os maus-tratos ao médico forense, a Polícia manteve a mesma atitude.  

Zumai Olalde, que defendeu a sua militância política, também denunciou torturas físicas e psicológicas, tal como Amaia Elkano. Esta jovem quis depor perante o juiz, mas este não a intimou. Depois, viria a ser detida, por ordem judicial, sendo torturada pela Polícia, segundo denunciou.

Passou-se o mesmo com Garbiñe Urra, que foi detida mesmo depois de ter tentado depor, por duas vezes, na presença de Fernando Grande-Marlaska. «A viagem para Madrid foi bastante calma. Ali, fiquei bastante nervosa; ouvia os gritos dos outros». Nos calabouços, «gritavam comigo, ameaçavam-me, apalpavam-me» e, «como não respondia, davam-me com mais força. No segundo dia, começaram com o saco». Apresentou queixa em tribunal.

Itxaso Torregrosa afirmou que se está a julgar a sua militância política e que este julgamento está «a mais» neste tempo. Disse também que, quando foi detida, estava a convalescer de uma operação, numa «situação delicada», e que, apesar disso, ficou incomunicável e sofreu «ameaças, coacções e insultos». Chegou a perder os sentidos.
Oier Zuñiga também denunciou as torturas a que foi submetido. «Obrigaram-me a fazer flexões e abdominais. Quando me cansava, tinha de continuar. Um polícia corpulento sentava-se em cima de mim. Batiam-me na cabeça com uma espécie de lista telefónica. Davam-me pontapés nos testículos. Tudo com insultos», disse. Também lhe aplicaram o tormento conhecido como o saco. «Apertaram-no até ficar sem ar, tiraram-mo. Voltaram-mo a pôr», disse.

Fermín Martínez Lakunza disse que era «um militante da EAE/ANV» e que «isto é um julgamento contra a nossa militância política». Disse também que, depois da operação contra os jovens independentistas e após a detenção de Ainara Bakedano às portas da AN espanhola, decidiu ir para Itália.

Artzai Santesteban foi o último a depor. Disse que foi para Itália para tornar pública a sua situação e recordou que o MP retirou, por duas vezes, as acusações contra ele relacionadas com acções de kale borroka. / Ver: naiz.info e Berria  

AMANHÃ COMEÇA JULGAMENTO DO BATASUNA, PARA «CONDENAR TODO UM POVO»
Numa conferência de imprensa ontem em Donostia, Floren Aoiz afirmou que o macro-processo 35/02 é «um processo geral contra a actividade político-institucional da esquerda abertzale», com o qual se pretende «julgar e condenar todo um povo». 36 pessoas vão sentar-se no banco dos réus. No próximo dia 26 haverá uma manifestação de protesto, em Bilbo, contra este julgamento e o de 40 jovens independentistas, que começou esta segunda-feira. / Mais informação: naiz.info