Num poema de 1936, Abel Meeropol descrevia esta paisagem americana: «As árvores do Sul dão estranhos frutos / Sangue nas folhas e sangue nas raízes / Corpos negros a balançar na brisa do Sul / Estranhos frutos pendurados dos álamos». Oitenta anos volvidos sobre os anos Jim Crow, os negros linchados já não são pendurados nos ramos, como frutos, para que o mundo veja como é frutífera a árvore da «democracia ocidental». Agora tudo é diferente. Ora veja-se: Alton Sterling estava a vender CD na rua. Então, a polícia imobilizou-o no chão e executou-o à queima-roupa com seis tiros. Philando Castile, conduzia sem um dos faróis. A polícia mandou-o parar (como no passado já fizera, agora sabe-se, outras 52 vezes) e executou-o, com cinco tiros, à frente da namorada e da filha de quatro anos. A diferença é que, contrariamente a como dantes era, há hoje telemóveis, vídeos, Internet e muitas outras árvores de mais frondosos braços, para partilhar aos milhões a raiva e a revolta dos estranhos frutos do Sul. (avante.pt)
«UE, o eufemismo de capitalismo», de Miguel Tiago (Diário Liberdade)
A «austeridade» não é rigor, é desleixe criminoso para um punhado de poderosos e fome e miséria para milhões. A «austeridade» é o assalto descarado aos direitos dos trabalhadores, o desvio da riqueza produzida por quem trabalha para os braços dos que sempre viveram do trabalho dos outros.
A derrota desta política só depende dos que são por ela prejudicados e não dos que tiram proveito dela. Pintaram de azul uma bandeira e salpicaram-na com estrelinhas amarelas, usaram a Ode à Alegria como hino, mas a roupagem não esconde o nome verdadeiro da UE: capitalismo.
E alegria é coisa muito restrita no capitalismo: é que nunca dá para todos.