sábado, 15 de maio de 2010

A página de Ares atribui o rótulo de criminosos a «Pertur», «Txiki», Artajo, Lasa...

Tasio

O vídeo em que se convida os cidadãos à delação na «página antiterrorista» do Governo de Lakua ilustra uma menção aos «crimes» da ETA com fotografias de militantes abertzales mortos pela Polícia franquista, fuzilados, «desaparecidos» e vítimas da guerra suja. Tal foi denunciado pela Ahaztuak 1936-1977. Entretanto, o EA pede explicações a Rodolfo Ares sobre a página e a relação entre a ikurriña e o «terror».

O vídeo «terroristas=delincuentes» com que o Departamento do Interior pretende incentivar as denúncias por parte dos cidadãos na sua «página antiterrorista» continua a causar controvérsia, em virtude das mensagens subjacentes que inclui. Além de o conceito «ofensiva de terror» surgir acompanhado com imagens da ikurriña, quando diz que a ETA «se dedica há meio século a cometer todo o tipo de crimes», aparecem dezenas de fotografias de militantes abertzales, tanto da ETA como de outras organizações, ou de simples cidadãos bascos, cujo denominador comum é serem lutadores antifranquistas ou vítimas da Polícia e da guerra suja.

Entre essas fotos figuram, por exemplo, as de Eduardo Moreno Bergaretxe, Pertur, José Miguel Etxeberria, Naparra, e Popo Larre, «desaparecidos» em 1976, 1980 e 1983, respectivamente. Também a de Justo Elizaran, morto a tiro a 13 de Setembro de 1979 em Biarritz, num atentado assumido pela Acción Nacional Española e pelos Grupos Armados Españoles. E está também Joxean Lasa, sequestrado e morto por agentes da Guarda Civil comandados por Enrique Rodríguez Galindo. A acção foi atribuída aos GAL.

Tal como denunciou a associação Ahaztuak 1936-1977, na imagem pode-se identificar, entre outros, Alberto Asurmendi e Jokin Artajo, militantes do EGI-Batasuna falecidos quando explodiu o artefacto que transportavam para uma acção contra interesses franquistas por ocasião do Aberri Eguna de 1969. Aparecem também José Benito Mujika, Xenki, Mikel Martínez de Murguía e José Antonio Aranguren, Iharra, mortos por balas franquistas em Lekeitio e Urdazubi em 1972; Eustakio Mendizabal, Txikia, morto a tiro pela Polícia da ditadura em Algorta em 1973.

A lista prossegue com, por exemplo, Blanca Salegi, Iñaki Garai e Jesús Markiegi, mortos num assalto policial a uma quinta de Gernika durante o estado de excepção de 1975.

E como se pode ver nitidamente quase no centro da imagem do vídeo, nela figura Jon Paredes Manot, Txiki, militante da ETA condenado à morte e fuzilado em 1975. Em Setembro último, a Ertzaintza impidiu a realização da homenagem no cemitério de Zarautz.

EA pede explicações a Ares
Tal como o Gara referia na sua edição de quinta-feira, no mesmo vídeo, a alusão a uma suposta «ofensiva de terror iniciada [pela ETA] desde o seu nascimento» era ilustrada com imagens de ikurriñas. O parlamentar do EA, Jesús Mari Larrazabal, pediu explicações ao conselheiro Rodolfo Ares sobre esta «inaceitável relação».

Larrazabal considera ainda que a própria página «abre um espaço perigoso para a delação, que carece de todo o tipo de controlo e garantias prévias». O deputado do EA adverte que pode trazer mais problemas que benefícios e questionou o conselheiro relativamente aos critérios na sua utilização e permanência.

Por outro lado, Larrazabal também pediu que a conselheira da Cultura, Blanca Urgell, explique numa sessão plenária por que o programa «Retratos», da ETB, só faz referência a vítimas da ETA e que iniciativas tomará a televisão pública em memória de vítimas de organizações parapoliciais, da tortura ou de outros tipos de violência política.

Iñaki IRIONDO

Unanimidade contra a tortura, mas com matizes importantes
O Parlamento de Gasteiz aprovou na quinta-feira por unanimidade uma moção em que se pede ao Governo espanhol que se mova junto dos 14 estados da UE que não assinaram o Protocolo contra a Tortura da ONU, para que o façam. Pede-lhe também que ele mesmo impulsione «o cumprimento efectivo» no Estado espanhol «do que está estabelecido na Convenção contra a Tortura e no seu Protocolo Facultativo».

A iniciativa partiu do PNV, que acordou um texto com o PSE e o EA, que tinham apresentado emendas. No final, a proposta contou com o voto de todos os grupos parlamentares porque, como expressou Carlos Urquijo, do PP, seria «idiota» opor-se.

Contudo, a unanimidade alcançada não esconde as importantes diferenças de critério existentes entre os grupos parlamentares sobre uma questão básica nesta matéria: se no Estado espanhol se continua a torturar ou não e se os mecanismos adoptados são suficientes para a prevenção dos maus tratos e para a investigação das denúncias que ocorrem.

Nerea Antia, do PNV, e Jesús Mari Larrazabal, do EA, chamaram a atenção para o facto de o «vigilante» nesta matéria no Estado espanhol ser Enrique Múgica Herzog e de, nos meses que leva no desempenho do cargo, não ter detectado torturas. Ambos insistiram na necessidade de um controlador mais independente e de dotar o mecanismo de mais meios, pois só conta com sete pessoas para mais de nove mil centros de detenção ou prisão. Pelo contrário, Mikel Unzalu, do PSE, referiu que o Defensor del Pueblo espanhol é independente por lei, e voltou a insistir na existência de denúncias falsas, fruto de consignas de «determinados grupos terroristas». Mikel Basabe, do Aralar, teve de lhe recordar novamente a sentença recente do Egunkaria, na qual ficou expressa a sua existência. I.I.
Fonte: Gara

Ver também artigo de opinião de Lander GARCÍA, membro da Ahaztuak 1936-1977
«'Portal antiterrorista': Erro na página»