sexta-feira, 4 de junho de 2010

Questionar a versão oficial sobre Anza «legitima o terrorismo»


O PSE e o PP impediram na quinta-feira que o Parlamento de Gasteiz expressasse «a sua preocupação pelas circunstâncias muito estranhas do desaparecimento e da morte de Jon Anza» e pedisse «uma investigação exaustiva» por parte das autoridades francesas e de organismos independentes, tal como solicitavam Aralar e EA com o apoio do PNV. Quem votou contra alegou a confiança nos tribunais e nos estados de direito, tanto francês como espanhol.

Pese reconhecer que existem elementos «misteriosos» e «falhas a diferentes níveis» no desaparecimento e na morte de Jon Anza, PSE e PP, com o apoio do representante da UPyD, recusaram-se a solicitar que a questão seja investigada pela justiça e que, podendo estar implicados aparatos dos estados francês e espanhol, haja também uma investigação independente. A razão de fundo foi que o facto de se solicitar este tipo de investigações implicava lançar a desconfiança sobre as autoridades francesas, as FSE espanholas e sobre ambos os estados de direito.

O Aralar tinha apresentando a proposta, que foi emendada pelo EA. Entre ambos, chegaram a um texto conjunto no qual o Parlamento manifestava «a sua preocupação pelas circunstâncias muito estranhas do desaparecimento e da morte de Jon Anza» e solicitava que as investigações fossem levadas até às últimas consequências, apurando as responsabilidades. O PNV juntou-se a estes pedidos.

A porta-voz do Aralar, Aintzane Ezenarro, expôs os pontos não esclarecidos do caso, as muitas questões ainda em aberto e lembrou que a família de Jon Anza ainda não pôde reaver o cadáver. Insistiu que a proposta não pretendia «fazer asserções» sobre as causas do seu desaparecimento e morte, mas «colocar questões» que precisam de respostas.

Em termos semelhantes, expressou-se também o porta-voz do PNV, Joseba Egibar, que lembrou que a história recente de Euskal Herria inclui casos graves que tiveram um começo idêntico em Iparralde. Por isso, considerou que tanto o PSE como o PP também deveriam estar interessados na investigação.

Duvidar legitima o terrorismo
Contudo, PSE e PP entenderam que, ao fazer perguntas sobre o que tinha acontecido a Jon Anza e ao duvidar da versão oficial, o que se estava a fazer era alastrar a «desconfiança sobre o Estado de Direito».
E, chegados a este ponto, o parlamentar do PSE Jesús Loza deu mais um passo. «Significa, de forma clara e simples, a deslegitimação das instituições judiciais e, com elas, a do próprio Estado de Direito como elemento substancial de qualquer democracia, o que é sempre algo de muito grave e mais aqui, agora, em relação ao terrorismo». E acrescentou que «a deslegitimação do Estado de Direito nestes assuntos representa uma legitimação indirecta do terrorismo».

Aintzane Ezenarro respondeu-lhe que essa afirmação, que figurava também no «Plano de Convivência», não tem «pés nem cabeça».

Iñaki IRIONDO

Nenhum grupo se somou à apologia de Garzón
Apesar de, à tarde, o PSE se ter alçado em grande paladino da justiça e dos tribunais, na parte da manhã tinha apresentado uma iniciativa em que considerava «ofensivo para a dignidade democrática que o juiz Baltasar Garzón se vá sentar no banco dos réus» por uma decisão tomada nada menos que pelo Supremo Tribunal. O seu porta-voz, Mikel Unzalu, pediu à Câmara que apoiasse o juiz, reconhecendo o seu «serviço à democracia» e a sua contribuição para o «estabelecimento das liberdades e do Estado de Direito». Embora tenha tentado condimentar a proposta com proclamas antifranquistas, nenhum grupo se somou à apologia de Garzón.

PNV, Aralar e EA lançaram duras críticas ao juiz, o qual, nas palavras de Jesús Mari Larrazabal, «fez muito mal». Mikel Basabe duvidou de que realmente quisesse investigar os crimes do franquismo porque deixou passar várias oportunidades. E Iñigo Iturrate, do PNV, lembrou que em 96 Rubalcaba acusou o juiz de emitir «autos políticos». I.I.
Fonte: Gara