Germán Rodríguez, Gladys del Estal, Mikel Arregi ou Ángel Berrueta são apenas os casos mais conhecidos. Dezenas de navarros foram mortos pelas Forças de Segurança do Estado (FSE) nestes 50 anos, em circunstâncias muito variadas mas com um final comum: quase todas essas mortes ficaram impunes e foram esquecidas a nível oficial, mas não popular.
A Euskal Memoria documentou há um ano a realidade das outras vítimas do conflito. Muitas dessas 475 mortes foram provocadas pelas FSE, e não poucas são de cidadãos navarros. Quase todas ficaram impunes, e a maioria nem sequer é lembrada. Por exemplo, muito poucos terão ouvido falar de Miguel Iturbe Elizalde, um habitante de Zugarramurdi com 17 anos de idade que no dia 8 de Novembro de 1967 teve a pouca sorte de encontrar pela frente um grupo de guardas civis que controlavam a fronteira. Foi abatido por várias rajadas de metralhadora.
O seu caso é um dos reunidos pela Euskal Memoria, que acrescenta que, «ao descobrirem o seu "erro", os polícias lhe colocaram uma pistola [na mão?] e disseram que se tinha verificado um confronto». Depois do desmentido dos habitantes, uma segunda nota alterava a tese e passava a afirmar que era um contrabandista que tentava fugir. Dias depois, em circunstâncias que também nunca foram esclarecidas, dois dos guardas civis do grupo que tinha acabado com o jovem Miguel Iturbe apareceram também mortos, um por disparos e outro atropelado.
Entre os mortos esquecidos e repescados pela Euskal Memoria estavam dois jovens que faleceram numa das constantes disputas que ocorriam na discoteca Bordatxo, em Doneztebe: Santiago Navas e José Javier Nuin, em 1976. Os choques entre habitantes do Norte de Nafarroa e as FSE eram muito frequentes nesses anos: Manuel Andueza, habitante de Bera, faleceu em 1970, depois de a Guarda Civil ter disparado sobre ele, após um incidente rodoviário. Kepa Josu Etxandi, de Luzaide, foi morto a tiro num controlo, em 1975. Anacleto Rebolé, de Irunberri, morreu na sequência de um disparo que escapou a um outro agente, em Potasas, cinco anos antes. Também aparentemente fortuito, foi o tiro que acabou em Aurizberri com Orio Solé, anarquista catalão que tinha escapado da prisão de Segóvia em 1976, quando acabava de ser detido.
Nesse mesmo ano morreu também a tiro um jovem em Burlata, Francisco Alonso Castillejo, numa perseguição que oficialmente se atribuiu a questões de delinquência comum. E por esclarecer ficou também a morte de um jovem de Lerín, em 1989, depois de um incidente com a Guarda Civil, contra a qual teria disparado.
Nunca houve sentenças penais nem responsabilidades políticas em casos como o de Mikel Zabaltza, encontrado nas águas do Bidasoa, em Endarlatsa, em 1985, ou no de Susana Arregi e Jon Lizarralde, mortos na foz do Irunberri, em 1990, mas todos eles se encontravam nas mãos das FSE quando perderam a vida.
Não há dúvida alguma, ao invés, de que foi a Guarda Civil que acabou com a vida da donostiarra Gladys del Estal numa mobilização ecologista em Tutera, em 1979. Neste caso, o autor dos disparos chegou a ser julgado, mas nem sequer cumpriu a pena a que foi condenado - um ano e meio de prisão - e em 1992 seria condecorado pelo autarca da capital da Erribera, do PSOE.
Na semana pró-amnistia de 1977, José Luis Cano morreu depois de ser espancado pelos «grises» [cinzentos] na Rua Calderería, em Iruñea. Tinha um disparo na cabeça. Nada mais se soube. Apenas tinha passado um ano sobre os acontecimentos de Montejurra, com dois militantes carlistas mortos num ataque fascista e por entre muitas conivências policiais, e faltava um ano para que as FSE dessem cabo dos Sanfermines de 1978. Naquele assalto, houve 7000 disparos de material antimotim e 130 disparos de bala. Faleceu Germán Rodríguez, e nunca se soube quem foi o autor. Quase três décadas volvidas, as instituições nas mãos da UPN continuam a evitar apoiar qualquer reclamação de justiça e chegaram a retirar a estela que assinala a morte do jovem - entretanto recolocada, após uma intensa batalha.
Disparos policiais anónimos acabaram também com as vidas de militantes de diferentes organizações, como os txantrearras José Mari Izura, Pelu, e Rafael Delas, Txapas, na baía de Pasaia, em 1984, ou Mikel Castillo, em 1990, na Alde Zaharra de Iruñea. Um ano depois, esteve quase a acontecer outro tanto e também na parte velha da capital ao jovem Mikel Iribarren, que esteve à beira da morte por causa do impacto de uma granada de fumo à queima-roupa. Quase duas décadas depois, o Tribunal Europeu punia o Estado espanhol pelo caso.
Os cargos eleitos não estiveram a salvo deste tipo de acções. O caso mais grave ocorreu em Novembro de 1979, quando disparos da Guarda Civil acabaram com a vida de Mikel Arregi, vereador do HB em Lakuntza, num controlo de estrada.
Talvez algum dia se junte a toda esta lista incompleta de casos o nome de José Miguel Etxeberria Álvarez, Naparra, nascido em Iruñea, e criado em Alegia e Lizartza (Gipuzkoa). Está desaparecido desde 1980. Vários dias em parte incerta esteve também Josu Zabala, militante da ETA de Etxarri-Aranatz, até que foi encontrado com um tiro no peito, em Itziar.
Paralelamente, o Exército espanhol provocou várias mortes em Nafarroa com os bombardeamentos nas Bardenas, desde 1951. Fragmentos de bombas da Guerra de 1936 também fizeram quase uma dezena de mortes nestes últimos 50 anos, e mais duas mortes foram provocadas pela base que o Exército norte-americano teve em Gorramendi, perto de Baztan, entre 1953 e 1974. À margem de intervenções policiais e militares propriamente ditas, a guerra suja e a política penitenciária estiveram na origem de muitas outras mortes de navarros neste período.
As autoridades navarras que na quinta-feira condecoraram as FSE agiram com absoluta negligência em todos estes casos, ora assumindo as versões oficiais correspondentes, ora retirando importância aos casos. O último exemplo trágico foi o do padeiro de Donibane (Iruñea) e membro da Gurasoak Ángel Berrueta, morto por um polícia espanhol e pelo seu filho na bebedeira anti-abertzale que se seguiu aos atentados de 11 de Março de 2004. Este caso foi julgado, mas o magistrado principal do Tribunal Superior de Nafarroa - Javier Muñoz, também homenageado na quinta-feira - defendeu que se tratava de uma mera «rixa entre vizinhos». A mulher do polícia foi absolvida e o filho já está na rua ou a pontos de sair. / Ramón SOLA
Fonte: Gara via lahaine.org
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Na imagem de baixo, Barcina nos tempos de alcaldesa de Iruñea, acompanhada pelo muito contestado Simão Santamaría, chefe dos malha-malha na capital, que muitas têm no seu curriculum. E lá recebeu as honras.