sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Condenados no Processo de Burgos recordam o que viveram 42 anos depois

Convocada pelas organizações Goldatuz e Euskal Memoria, a conferência que ontem reuniu algumas das pessoas que, no dia 27 de Dezembro de 1970, foram condenadas a 9 penas de morte e 590 anos de prisão teve um carácter emotivo e bastante pessoal.

A sala Kutxa da Alde Zaharra [Parte Antiga] donostiarra encheu para ouvir aquilo que se passou pela boca dos protagonistas, no caso Itziar Aizpurua, Antton Karrera e Jon Etxabe, acompanhados pelo advogado Miguel Castells.

Todos eles recordaram que, de forma premeditada, tinham decidido «dar cabo» do julgamento, de maneira que este constituísse uma verdadeira ruptura. Assim, estabeleceram como objectivo que tudo aquilo que se passasse na sala fosse divulgado e chegasse a Euskal Herria.

A prova de que isso foi inteiramente alcançado foi a greve geral realizada no país durante os sete dias que durou o julgamento militar. Os condenados disseram ainda que o que propiciou o indulto, decretado apenas três dias depois – 30 de Dezembro de 1970 – da sentença, foi a mobilização popular que se deu em todo o território basco, bem como na Cidade do México, em Paris ou Berlim, entre outros lugares.

Tendo em conta que até então o franquismo não tinha condenado nenhum membro da ETA, os condenados afirmaram que aquele julgamento serviu para «tirar a máscara ao franquismo» e, também, para que a questão de Euskal Herria saltasse para a cena internacional. Também ficou claro até onde o regime de Franco estava disposto a chegar.

Precisamente por isso, quando o advogado Castells comunicou a Jokin Gorostidi que tinha sido condenado a duas penas de morte, o último respondeu-lhe que era a melhor prenda de Natal que lhe podia dar.

Itziar Aizpurua destacou que o indulto aos condenados mostrou que se podia vencer o franquismo, e acrescentou que «isso teve continuidade». Assim, sublinhou que Euskal Herria sobreviveu à chamada Transição espanhola e que, hoje em dia, está claramente disposta a obter a vitória. / Fonte: naiz.info / Ver: Berria 

Crónica: «O 27 de Dezembro em que Euskal Herria tirou a máscara ao franquismo», de Ramón SOLA (Gara)
O episódio é conhecido, mas ainda comove. No dia 28 de Dezembro de 1970, Miguel Castells teve de comunicar a Jokin Gorostidi que tinha sido condenado à morte. «É a melhor prenda de Natal que me podias dar», respondeu-lhe o militante da ETA. Tinha razão: dois dias depois chegava o indulto, e o mundo tinha descoberto a resistência basca e a cara real do franquismo.