domingo, 9 de agosto de 2009

Ataque ao direito de manifestação: a Ertzaintza faz com que o protesto dure horas e alastre a todo o centro de Donostia


Nem as advertências do Departamento do Interior de Lakua, nem uma segunda proibição por parte do juiz Baltasar, nem uma hora de acosso policial por parte da Ertzaintza conseguiram evitar que centenas de cidadãos percorressem o centro da cidade donostiarra denunciando a situação de excepção que Euskal Herria vive e exigindo a palavra e a decisão para os seus cidadãos.

Depois de sessenta minutos de grande tensão nas imediações do Boulevard donostiarra, duras cargas por parte da Ertzaintza e duas detenções, a autodeterminação foi reclamada no centro da cidade, tal como se pretendia desde o início. E se a Ertzaintza bem se esforçou para silenciar essa exigência - através de cargas, cacetetes e mesmo tentativas de atropelamento -, a única coisa que conseguiu foi prolongar a manifestação durante toda a tarde e fazê-la alastrar a toda a cidade.

A situação de excepção que se procurava denunciar na marcha era tão evidente na capital guipuscoana que nem os turistas ficaram alheios a ela. Por volta das 17h, nove patrulhas da Polícia autonómica esperavam estacionadas na Hernani kalea e cada rua que ia dar à Alde Zaharra estava ocupada por ertzainas munidos com material antimotim.

Perante este cenário de guerra, um teatro divertia dezenas de crianças nesse mesmo Boulevard e os manifestantes antitouradas preparavam-se para se manifestar, às 18h. Além disso, duas batukadas iam marcando o ritmo nas imediações de Alderdi Eder, onde muitos donostiarras se iam juntando para assistir ao tiro do canhão [que marca o início das festas], uma hora mais tarde.

Foi neste contexto que centenas de cidadãos bascos se foram juntando com o propósito de se manifestarem, como acontece todos os anos no arranque das festas donostiarras.
Começaram-se a ver ikurriñas e cartazes que rezavam «Salbuespen egoerari stop. Euskal Herriak autodeterminazioa» [Stop ao estado de excepção. Autodetermição para o País Basco] no meio do ambiente festivo e a manifestação foi ganhando corpo depois da passagem da damborrada da Unión Gastronómica, deixando para trás a Parte Velha para entrar na Hernani kalea e disparar o canhão.

Depois dos tambores, as centenas de cidadãos iniciaram o seu percurso. E, não havendo faixa, cada qual erguia os cartazes que denunciavam a situação de excepção e exigiam a autodeterminação. Após o rufar dos tambores, ouviam-se palavras de ordem a favor da independência do país e em defesa do Colectivo de Presos Políticos Bascos.

Com os cacetetes e aos empurrões
A Ertzaintza, contudo, não demorou muito a barrar a passagem aos manifestantes, que, após o caos inicial, se espalharam por todo o Boulevard sem parar de gritar. Os agentes da Ertzaintza também se espalharam por toda a praça e, seguindo as ordens dos seus superiores, «varriam» toda a Parte Velha em vagas sucessivas, empurrando e agredindo todos os que encontrassem pela frente, fossem jornalistas ou pessoas de idade avançada.

Com a primeira carga, verificou-se a primeira detenção e, meia hora depois, a segunda. Era um homem que, em vez de se esconder e desatar a correr, ficou onde estava, erguendo um cartaz na presença dos agentes. Atiraram-no para o chão e, depois de o algemarem, levaram-no para a furgoneta. Entre vaias e duras críticas.

A polícia do Departamento de Rodolfo Ares parecia ter um objectivo claro: silenciar qualquer vislumbre de protesto. Algo que, após sessenta minutos de dura actuação policial, se tornou impossível. O afã censório fez aumentar o protesto e as concentrações, verificando-se singularidades como a presença de manifestantes com cartazes nas mãos no Alderdi Eder, na altura do tiro do canhão, atrás das batukadas, imersos na manifestação antitaurina ou acompanhados por gigantes e cabeçudos.

Os agentes não tinham mãos a medir. Durante a hora em que permaneceram nas imediações da Parte Velha, foram submergidos. Enquanto iam silenciar centenas de jovens que apareciam numa rua da parte antiga, dezenas de cidadãos juntavam-se no Boulevard para continuarem o protesto. Até que os agentes de Ares deixassem para trás a Alde Zaharra e regressassem de mau humor ao Boulevard para impor o silêncio. Antes de alcançarem este objectivo, já um outro grupo de manifestantes se fazia notar numa outra rua da Alde Zaharra, para suplício dos homens de uniforme.

Era visível a tensão da Ertzaintza e a sanha com que actuava. Um jovem foi espancado por três agentes por não deixar de agitar uma ikurriña com um crepe negro em memória do edil villabonatarra Remi Ayestaran, que faleceu na sequência de uma discussão com a Ertzaintza. Batiam com os escudos, davam encontrões e insultavam os manifestantes, tudo isto se repetiu durante esses sessenta minutos.

Mas as ordens eram claras. O superior repreendeu alguns dos seus agentes, que começaram a discutir com um grupo de homens e mulheres, empurrando-os. O superior dizia-lhes, e qualquer um o podia ouvir, que, «se alguém se armar, zás-trás e toca a andar».

O estrondo do canhão apanhou de surpresa as centenas de cidadãos que se encontravam na praça contígua, mais atentos às cargas policiais que ao início da festa. Depois de recuperarem do susto, as palavras de ordem a favor da amnistia ou da autodeterminação fizeram-se ouvir ainda com mais força. A pergunta «Non da Jon?» foi a que ecoou com mais força e contundência durante toda a tarde.

Após uma hora de acosso policial, foi a atitude da Ertzaintza que surpreendeu os manifestantes. De repente, retiraram e entraram nas furgonetas, por entre aplausos, vaias e slogans como «assim, assim, até Madrid».

Com o caminho livre até ao centro da cidade, dezenas de cidadãos ocuparam a Hernani kalea, seguidos por outras dezenas de pessoas que observaram como, embora fosse uma hora mais tarde do que o previsto, tinham alcançado o seu objectivo: manifestar-se pela cidade.

A marcha improvisada percorreu a Hernani kalea com determinação. No entanto, quatro furgonetas da Ertzaintza travaram a marcha de repente. Apareceram por trás a grande velocidade e os manifestantes e transeuntes tiveram que fugir para não serem atropelados.

Esta nova irrupção da Ertzaintza provocou a dispersão dos manifestantes, desta vez por diversos pontos do centro donostiarra. Alguns deles tentaram chegar ao Buen Pastor, outros erguiam os seus cartazes em frente a um centro comercial e outros ainda impediam a passagem a dois comboios txu-txu [turísticos] no meio da Avenida. O caos, como se pode ver, era total.

A proibição da manifestação e a carga policial, para além de um balanço em que se contabilizam duas pessoas detidas, fez com que o protesto dos cidadãos se prolongasse durante três horas no meio de uma cidade que dava início às suas festas.

Oihana LLORENTE

Ver na sequência: «Garzón junta-se ao veto e torna-o extensivo a toda a semana»
Fonte: Gara
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Fotos: kaosenlared


Imagens da repressão policial, ontem, em Donostia.