sábado, 1 de agosto de 2009

A odisseia do manuscrito de Lazarraga acaba no museu Bibat, em Gasteiz


Descoberto por Borja Aginagalde num antiquário de Madrid. Adquirido pela Deputação de Gipuzkoa e cedido na quarta-feira à de Araba, o manuscrito de Juan Pérez de Lazarraga descansa já no seu herrialde. No Bibat pode-se ver o documento de forma pouco clara, resguardado numa caixa, e um fac-símile que permite ao público examinar o texto, ver como era o euskara de Araba e procurar as três primeiras menções a «Euskal Herria», incluídas no documento.

A descoberta do manuscrito de Juan Pérez de Lazarraga, escrito em meados do séc. XVI e que constitui o texto escrito em euskara mais antigo de que há conhecimento em Hego Euskal Herria [País Basco Sul], demonstrou o arraigo do euskara em Araba, a existência da prosa profana e a primeira aparição do conceito «Euskal Herria». Desde a passada quarta-feira, qualquer pessoa o pode comprovar com os seus próprios olhos, bastando-lhe para tal visitar a entrada do museu Bibat, em Gasteiz. O manuscrito e um fac-símile ficarão em Araba, embora a análise do mesmo continue nas mãos de peritos.

O documento, que fora descoberto num antiquário por Borja Aginagalde, foi adquirido pela Deputação de Gipuzkoa, que agora o cedeu. Os deputados gerais de ambos os herrialdes, Markel Olano e Xabier Agirre, assinaram na quarta-feira o acordo que assinala a cessão do manuscrito.

No acto de apresentação, não faltaram os comentários a evidenciar a importância do texto. O manuscrito contém um compêndio de versos, canções e histórias de amor que Lazarraga escreveu entre 1564 e 1567. Tudo em euskara. O conteúdo, e o facto de estar escrito em euskara, representou uma revolução literária desde o momento da sua descoberta. Além do mais, nas suas páginas pode-se ler a primeira menção conhecida até ao momento a «Euskal Herria». Ambos os deputados gerais salientaram este facto como um testemunho de vital importância sobre a existência do povo basco.

No que diz respeito ao conteúdo, pode dividir-se em duas partes: uma novela pastoril e uma colecção de poemas e canções. O relato, repleto de personagens mitológicos, segue as directrices literárias que estavam em voga à época. Este facto revela a existência de prosa profana no séc. XVI. O conteúdo apresenta ainda detalhes sobre acontecimentos históricos como o incêndio de Agurain. Xabier Agirre também destacou as três características que tornam o escritor único e que rompem com a visão estereotipada da cultura basca. Primeiro, o facto de ser de Araba - uma vez que pertencia a uma família estabelecida em Larrea; depois, era nobre, da linhagem de Los Lazarragas; e, por último, a sua obra literária enquadra-se no Renascimento, isto é, na cultura da elite do seu tempo. Tudo isso fez que, após a descoberta, se tivesse que rever vários conceitos que se tinham por adquiridos.


Em todo o caso, foi sobre o euskalki ou dialecto de Araba que mais informação inovadora se pôde obter. Trata-se de um tema que desperta grande interesse entre os cidadãos, como ficou demonstrado nas jornadas sobre o escritor que a associação Geu organizou em Dezembro último. Talvez seja esse mesmo interesse a atrair o público à exposição do Bibat, embora o documento já tenha estado exposto em 2005 na localidade alavesa de Zalduondo. Os especialistas encaram o dialecto como «ponte» entre o da Bizkaia e o de Gipuzkoa.

Outro dos elementos que lhe acrescentam valor é o conjunto de notas que se podem ver nas margens; a maior parte delas escritas em castelhano. Serviram, entre outras coisas, para as provas de escrita com as assinaturas e monogramas, que eram muito comuns no séc. XVI.

Itziar AMESTOY

Notícia completa: Gara