sábado, 1 de agosto de 2009

Remi Ayestaran, vereador de Villabona, morre de ataque cardíaco, depois de acossado pela Ertzaintza


«Quem matou o Remi foi a repressão da Ertzaintza», denunciaram pessoas que testemunharam os acontecimentos de ontem em Villabona (Gipuzkoa). O vereador independentista, de 27 anos, morreu de ataque cardíaco depois de ter sido acossado pela Polícia autonómica, que irrompeu no recinto festivo. Foi convocada para amanhã à tarde uma manifestação na localidade.

Dois amigos de Remi Ayestaran Olano que testemunharam os acontecimentos, a irmã, e membros da sua cuadrilla, os seus colegas de grupo no Município e um representante do Movimento pró-Amnistia estiveram hoje presentes em Villabona para relatar os acontecimentos e dar conta da manifestação marcada para amanhã, às 18h, na localidade.

Os acontecimentos deram-se ontem após as 20h, depois de a Ertzaintza ter irrompido na praça de Villabona, que vivia o seu último dia de festas. Para essa hora estavam programada uma série de concertos de rock numa pequena praça contígua, onde se tinha instalado um bar.

Para essa hora também tinha sido convocada uma manifestação em solidariedade com os presos, mas esta foi desconvocada após a proibição da Audiência Nacional espanhola.

O vereador Remi Ayestaran, vice-presidente da Câmara e responsável pela organização dos eventos festivos, comunicou à Ertzaintza que não iria haver qualquer mobilização e exigiu-lhes que abandonassem o local. No entanto, os agentes foram até à praça onde decorriam os concertos, onde identificaram várias pessoas.

Apesar de o vereador lhes garantir mais do que uma vez que não ia haver qualquer manifestação e lhes pedir que se fossem embora, os agentes ficaram ali perto de duas horas.

A autarca da localidade, Maixabel Arrieta, confirmou à Euskadi Irratia que os ertzainas ainda ali estavam às 22h.

«Mas tu és parvo ou quê?»
Os seus amigos explicaram que o trágico desenlace ocorreu depois de o chefe da Ertzaintza no local ter interpelado várias vezes Ayestaran sobre a origem do grupo que estava a tocar naquela altura. Como o jovem lhe respondeu que não sabia, o comandante insistiu, pois, sendo de Villabona, deveria saber. «Mas tu és parvo ou quê?», disse-lhe.

O agente continuou a martelar, e os amigos do vereador aconselharam-no a ir-se embora dali, tendo em conta a atitude que o ertzaina estava a manter. Antes disso, o polícia ainda lhe disse «fica a saber que gosto muito de ti».

Depois de se afastar do local, sentiu-se mal e desfaleceu. Segundo algumas testemunhas relataram ao Gara, uma enfermeira que se prontificou a socorrer o jovem foi identificada pela Ertzaintza. Uma irmã de Aiestaran, que também é enfermeira, foi avisada, e tentou reanimá-lo.

Ainda de acordo com o relato das testemunhas oculares, os ertzainas que estiveram no local «não fizeram mais do que chatear» e chegaram mesmo a empurrar as pessoas que ali se juntaram.

Apareceram três ambulâncias e, inicialmente, conseguiram reanimar o jovem, que foi levado para uma clínica de Tolosa, onde viria a ser dado como morto.

Depois de se saber da morte, as festas foram suspensas, todos dos os estabelecimentos hoteleiros fecharam, e houve uma manifestação às 23h.

«Claros responsáveis políticos»


Na conferência de imprensa, afirmaram que «quem matou o Remi foi a repressão da Ertzaintza, e hoje, aqui, queremos dizer que esta morte tem claros responsáveis políticos: Rodolfo Ares e Patxi López».

Realçaram que «a única coisa que queriamos fazer ontem em Villabona era denunciar a cruel política penitenciária, como já fizemos tantas vezes sem qualquer problema. Mas o veto da Audiência Nacional espanhola e o terramoto mediático colocaram Villabona no centro da repressão. E todos sabemos quais foram as consequências».

Nestes «duros momentos», quiseram lançar uma mensagem a favor de «uma verdadeira solução política», mas também deixaram claro que «para abrir o caminho a uma solução é preciso acabar com a repressão».

Amanhã, manifestação

Hoje, ao meio-dia, houve uma assembleia, a que se seguiu uma manifestação, em que participaram centenas de pessoas com ikurriñas com crepes negros e uma faixa em que se lia «Remi, gogoan zaitugu, herriak ez du barkatuko» [Remi, não te esquecemos, o povo não perdoará]. Depois da conferência, houve nova manifestação.

Versão da Ertzaintza
O gabinete de imprensa da Ertzaintza comunicou ao Gara que foram até à localidade para impedir a ocorrência do acto que tinha sido proibido pela Audiência Nacional.

A partir daqui, a versão contradiz quase em absoluto o que foi afirmado pelas testemunhas e amigos: os agentes não estavam na festa nem no recinto dos concertos, mas na praça do Município, e também não estavam presentes quando Remi Ayestaran desmaiou.
De acordo com a versão policial, um cidadão aproximou-se dos agentes para os avisar do que se tinha passado, tendo um dos ertzainas tentado reanimar o vereador, enquanto os colegas chamavam uma ambulância.

Fonte: Gara