quarta-feira, 5 de maio de 2010

O euskara une por um dia a América, a Ásia e a Europa


O euskara serviu ontem para que uma finlandesa, uma japonesa, um madrileno e uma argentina explicassem em Iruñea o valor que a «lingua navarrorum» tem em qualquer parte. No debate só se ouviu castelhano nos auriculares da tradução simultânea.

A ikastola Paz Ziganda, de Atarrabia, tem a seu cargo o Nafarroa Oinez deste ano. Escolheu como lema «Munduz, mundu» [Por todo o lado], para assim mostrar que o euskara não é um localismo, mas antes um valor universal e uma contribuição para a riqueza cultural do mundo. Para isso, convidou para o Baluarte, em Iruñea, quatro pessoas que ensinam euskara em universidades dos seus respectivos países.

O euskara de Helsínquia
Aos 28 anos, Hanna Lanto, além do suomi materno, fala inglês, castelhano, estónio, português, sueco, alemão e húngaro. Afirma, no entanto, que o euskara é o idioma que mais alegrias lhe deu. «Fiquei maravilhada com a sua estrutura e decidi vir aprender», explica. Lanto mostrou-se crítica com a ideia de que aprender euskara seja difícil: «Isso é relativo. Para mim foi fácil, porque o suomi tem certas semelhanças nalguns pontos». Para ela, o desafio principal é a falta de paciência. «Qualquer desculpa vale para não falar em euskara, criticar o batua [euskara "unificado"] como artificial, o lapurtera [variante dialectal de Lapurdi] como demasiado francês.... Isto é muito prejudicial para o idioma. Faz falta um pouco mais de tolerância linguística». Lanto dá aulas na Universidade de Helsínquia há cinco anos. «Muitos finlandeses querem aprender euskara pelo seu interesse idiomático, mas também porque sentem certa solidariedade com Euskal Herria. Fomos um país dominado primeiro pela Suécia e depois pelos russos. Sabemos que os direitos linguísticos não caem do céu, conquistam-se com muito trabalho e perdem-se facilmente».

Os bascos na Argentina
Rosana Entizne é música e matemática. Foi a sua mãe, que não tinha nenhuma ligação a Euskal Herria, que acabou por ficar cativada pela cultura basca. Entizne cresceu na Euskal Etxea de Bahía Blanca, na província de Buenos Aires. Após décadas de trabalho, os primeiros cursos intensivos em euskara só chegaram à Argentina em 2000, mas consolidaram-se, e hoje em dia estuda-se euskara em 36 centros e universidades argentinas. «Quando as pessoas me perguntam por que se estuda euskara na Argentina, respondo-lhes com outra pergunta: por que é que uma rapariga veste o pull-over do seu namorado que está longe? Para se sentir mais próxima do que quer, mais próxima dos seus antepassados ou da sua cultura». Para Entizne, «é preciso desmentir a ideia de que todos os bascos são bons porque têm o euskara, um idioma tão complicado que nem o diabo o conseguiu aprender. Na verdade, não é assim tão difícil».

Uma japonesa do Goierri
Hiromi Yoshida licenciou-se em Filologia Inglesa na Universidade Waseda, em Tóquio, estudando euskara no último ano. Continuou por hobby, mas, depois de 14 meses de barnetegi e várias estadas em Euskal Herria, acabou por fazer uma pós-graduação com o trabalho «Verbos sintéticos del euskara en Azpeitia, morfología y semántica» e doutorar-se com «El sistema de verbos auxiliares en el euskara de Azpeitia». Hoje em dia, há quatro universidades no Japão que oferecem cursos de iniciação ao euskara. Para Hiromi é «indiferente» a motivação que os japoneses tenham para aprender euskara, porque «o importante é até onde vão, depois de se abrir a porta». Até ela chegam alunos interessados «porque gostam de futebol, ou conheceram Euskal Herria. Outros aventuram-se simplesmente porque ouviram dizer que o euskara é o idioma mais difícil do mundo». Mas no Japão, lembrou a professora, também existe uma sensibilidade especial, sabem como é duro ter uma língua ameaçada, no seu caso, o ainu.

Em Praga e em Madrid
O professor de euskara da Universidade Complutense de Madrid, Carlos Cid, também não possui nenhum vínculo familiar a Nafarroa. «Sinto-me orgulhoso por falar euskara na capital de Nafarroa, porque falo o idioma que se conheceu como lingua navarrorum», afirmou Cid no início da sua intervenção. Começou a estudar euskara aos 15 anos, naquela que se viria a tornar «a escolha mais importante» da sua vida. Cid ensinou euskara em Madrid e em Praga. «O checo, tal como o euskara, foi um idioma menorizado, pelo que talvez devamos aprender com eles para dinamizar o euskara», afirmou. Dois amigos de Cid continuam a estudar e a dar aulas de Euskara em Praga. O professor destacou que é preciso defender no Estado um «verdadeiro bilinguismo», já que facilita depois a aprendizagem de um terceiro idioma.

Aritz INTXUSTA
Fonte: Gara