domingo, 9 de maio de 2010

Propagandas e gozações


Houve um tempo em que redigir versões oficiais credíveis era uma chatice para os responsáveis policiais de turno. Mais ou menos por volta do século passado. Já em plenos anos 90, houve um conselheiro do PNV que admitiu que a etiqueta dos «grupos Y» era uma invenção. Depois, um ministro do PP justificou as operações policiais com argumentos como «agora veremos de que é que os podemos acusar». Depois veio o procurador-geral do «talvez nos tenhamos passado, mas pegou». E as operações assumidas oficialmente como «preventivas». Como nada disto causou excessivo escândalo mediático, o actual ministro pode vender versões tão insustentáveis como a das detenções de Lapurdi.

Os quatro jovens, segundo refere o Movimento pró-Amnistia, faziam uma vida pública e normal. Tinham os contratos de aluguer e telefone em seu nome. É bastante óbvio que não estavam escondidos. E parece claro que não eram «cachorros da ETA» nem formavam um comando, entre outras pérolas que se puderam ler e ouvir ontem [sexta-feira]. Afirmações que vão mais além do que diz a nota do Ministério do Interior, para quem «estavam à espera de manter contactos com membros da organização terrorista ETA para a sua integração». Ou seja, quando muito foram detidos «por via das dúvidas». Como Ramón López, Ikerne Indakoetxea, Arantza Martin, Francisco Javier Gil, Gorka Iriarte, Galder Bilbao, Maider Egiguren e Iker Casanova. Acabam de ser absolvidos, após sete anos de processo e dois de prisão, na maioria dos casos.

O problema não está em quem vende essa mercadoria tão estragada - qual é o crime exacto?, onde estão as provas? -, mas em quem a compra e a divulga. É óbvio que entre as funções de um Ministério do Interior está a da propaganda, mas entre as funções dos meios de difusão não deveria caber a de gozar com as pessoas.

Ramón SOLA
Fonte: Gara