segunda-feira, 20 de abril de 2009

Em Durango, a Etxerat constata o «fracasso político» da dispersão


Milhares de pessoas responderam ontem afirmativamente ao apelo realizado pela Etxerat e compareceram no centro Landako, em Durango, onde decorreu um acto emotivo de denúncia da dispersão penitenciária, por ocasião do 20.º aniversário da sua aplicação aos presos políticos bascos – sob mandato do PSOE e o impulso de formações como o PNV, como foi recordado. Em Landako representaram, apesar da vigência tão marcante da dispersão, a defunção dessa ferramenta “violenta”, na medida em que não alcançaram os objectivos políticos pretendidos durante estas duas décadas.

Depois de uma semana repleta de actos e mobilizações em denúncia dos vinte anos de implementação da dispersão, a Bira organizada pela associação Etxerat terminou ontem em Durango com a participação de milhares de pessoas, que encheram Landako. Nesta ocasião, além do mais, puderam também participar os familiares, pessoas próximas e amigos dos cerca de 740 presos políticos bascos, já que neste fim-de-semana, com o objectivo de redobrar a denúncia contra a dispersão, os presos levaram a cabo uma greve de comunicações nas prisões francesas e espanholas.

Das palavras aos actos
“Por baixo de todas as tempestades e por cima de todos os controlos, muito obrigado por terem vindo até Durango”. Assim começou o acto nacional da Etxerat, com um atraso mais que compreensível, em virtude dos vários pontos de controlo colocados pela Guarda Civil em diversos pontos do país. Controlos que, como sempre, não representaram nenhum impedimento para que milhares de pessoas expressassem o seu compromisso em defesa dos direitos dos prisioneiros políticos bascos.

Essa foi a palavra mais usada – compromisso – e, ao mesmo tempo, a que mais exigiram aqueles que tomaram a palavra. E esse foi, também, o principal desafio que a Etxerat lançou: um pedido para passar das palavras aos actos, continuar a manifestar a solidariedade e assumir compromissos para pôr fim a “esta política penitenciária criminosa” que, como lembraram, tirou a vida a 16 familiares nas estradas e a 21 presos políticos bascos nas prisões espanholas e francesas.

«Euskal Herriak dispertsiorik ez» foi o lema que presidiu ao giro dos familiares durante esta semana por todo o território basco, a bordo de quatro furgonetas. E com a faixa que percorreu esses milhares de quilómetros, os próprios familiares foram recebidos por entre aplausos, passando por um corredor formado por dezenas de bandeirolas em prol da repatriação dos presos bascos. Aos aplausos, carregados de emoção, seguiu-se uma actuação musical que descrevia a vivência de um detido depois de passar pela roleta da tortura e pela “roleta da morte” que continua a ser a própria dispersão.

[na sequência, excertos:]
«É hora de dar novos passos»
A Etxerat fez o balanço doloroso da dispersão, reiterou a constatação do fracasso dos objectivos que estiveram na base da sua aplicação e mencionou o recrudescimento desta política nos estados espanhol e francês. Vincou a necessidade de dar novos passos, juntar forças e assumir compromissos, de modo a erradicar a dispersão de uma vez por todas.

«Mensagem do Colectivo»
Num comunicado que fizeram chegar expressamente para esta cerimónia, o Colectivo de Presos Políticos Bascos agradeceu a solidariedade mostrada e pediu que se continue na senda do compromisso em defesa dos seus direitos, admitindo que, apesar do grande sofrimento causado pela dispersão, “vale a pena lutar”. Denunciou ainda as manobras de intoxicação de Madrid, que aumentaram nas últimas semanas, tentando dar a entender que “não há solução possível e que a prisão e o conflito existirão para sempre”.

O momento mais emocionante chegou com o vídeo que fazia o trajecto dos vinte anos da dispersão e quando no ecrã gigante começaram a aparecer os rostos dos 21 presos e 16 familiares falecidos. Ao grito de «Herriak ez du barkatuko», milhares de gargantas soaram em uníssono, e correram muitas lágrimas pelas faces humedecidas. Lágrimas que voltaram no final, quando os familiares desses 21 presos e 16 familiares mortos subiram ao palco. Milhares de pessoas aplaudiram-nos de pé sem parar, até que todos recebessem um ramo de flores – e o calor e o carinho de todos os participantes.

Homenagem emotiva
Se em Durango se juntaram milhares de testemunhas directas das consequências da política penitenciária, no ecrã gigante apresentaram as suas vivências outros rostos que são muito conhecidos do domínio público. Assim, entre outros, censuraram a dispersão o mago Txan, Pirritx e Porrotx, o pelotari Oier Mendizabal, a bertsolari e apresentadora Estitxu Fernández, o escultor Juan Gorriti...

Depois das 14h, a cerimónia terminava com uma canção que resume bem o apelo ao compromisso lançado pela Etxerat: «Kalera, kalera, borrokalari kalera, hire indarraren beharra diagu, gure indarrarekin batera...»

Notícia completa: Gara

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Fonte: apurtu.org