domingo, 5 de abril de 2009

Garzón manda oito dos jovens para a prisão, acusando-os de pertencer à Segi


Oito dos dez jovens detidos pela Polícia espanhola nas operações levadas a cabo em Hernani, Urnieta e Gasteiz durante esta semana foram enviados ontem para a prisão, por decisão de Baltasar Garzón.

O magistrado espanhol decretou o encarceramento incondicional de sete dos detidos na terça-feira pela Polícia espanhola em Hernani e Urnieta: Egoitz Balerdi, Asier Olano, Mikel Gartzia, Eki Oñate, Aitzol Arrieta, Jon Ezeiza Jauregui e Txaber Zabaleta. A Iñigo Alzelai foi aplicada a medida de liberdade provisória sob fiança de 10 000 euros.

Para além disso, o magistrado espanhol terá emitido duas ordens de busca e captura contra Antton Zabala e Ekaitz Telleria. O juiz acusa os jovens de pertencerem à Segi* e, de acordo as agências, de terem participado em acções de kale borroka, embora sem concretizar a acusação.

O Movimento pró-Amnistia afirmou que todos os jovens denunciaram na presença do juiz ter sido maltratados durante os cinco dias do período de incomunicação. Disseram que “os murros, as ameaças e as fortes pressões para realizar declarações policiais” ocorreram sobretudo quando se encontravam na esquadra de Donostia. A organização anti-repressiva assegurou também que alguns dos jovens negaram as acusações que formularam contra eles com base nas declarações policiais, enquanto outros se recusaram a prestar declarações. Para além disso, referiu que o protocolo para evitar a tortura aplicado por Garzón é uma “fraude” utilizada como “maquilhagem”, e exigiu o fim do regime de incomunicação. E, neste sentido, acusaram os mandatários espanhóis de utilizar a tortura com “fins políticos”.


Encarcerado por «30 petardos»
Os dois jovens detidos na passada quinta-feira pela Polícia espanhola em Gasteiz também passaram ontem pela Audiência Nacional espanhola. Oier Urrutia e David Hernández foram levados para Madrid acusados de um “delito de enaltecimento do terrorismo”, acusação fundamentada nuns cartazes que terão encontrado no interior do bar Galtzagorri.

O juiz decretou prisão para Urrutia, que será o dono do local. Ao que parece, Garzón decidiu encarcerar o jovem gasteiztarra em Alcala-Meco depois de lhe imputar um delito de “depósito de explosivos”, por terem sido encontrados em seu poder trinta petardos, iguais aos que se podem comprar nas lojas. Hernández foi posto em liberdade com a obrigação de se apresentar todas as semanas para assinar. Não teve que pagar nada, apesar de o magistrado da acusação ter pedido 6000 euros de fiança. Também os acusa de estar relacionados com a Segi.

Trabalham ambos no bar Galtzagorri, que foi inspeccionado duas vezes por agentes da Polícia espanhola durante esta semana. A primeira investida aconteceu no final da tarde de quarta-feira e sem que nela fosse apresentada qualquer ordem judicial. Os agentes entretiveram-se a partir um mealheiro, tendo levado o dinheiro, ou a desfazer cubos de açúcar com lemas relativos aos presos.
Ainda se dedicaram a ameaçar quem estava no estabelecimento, batendo nalgumas pessoas e prendendo uma jovem por “desobediência”. Na quinta-feira os polícias voltaram a ocupar o local, e desta vez em força. 350 pessoas protestaram contra esta operação policial ontem à tarde em Gasteiz e denunciaram a “atitude violenta” mantida pela Ertzaintza durante a mobilização. Referiram que a Polícia autonómica acossou os manifestantes durante todo o percurso e os ameaçou, tendo ainda identificado os que levavam a faixa e ameaçado abrir diligências criminais. Um dos manifestantes foi ainda atingido por uma das suas furgonetas.

Detidos pelo seu «compromisso»
A operação policial levada a cabo durante esta semana em Hernani não impediu que os jovens independentistas desta localidade guipuscoana celebrassem ontem o Gazte Eguna, como estava previsto. Entre os numerosos actos que tinham programado incluíram uma manifestação em que centenas de pessoas denunciaram as detenções dos jovens.

Furgonetas da Ertzaintza seguiram a mobilização de perto, sem que se houvesse incidentes. No final da marcha, os jovens independentistas garantiram que vão continuar a lutar e que as operações policiais não conseguirão acabar com as dinâmicas e lutas empreendidas pelo movimento juvenil basco, como demonstraram ontem ao manter o programa de eventos do Gazte Eguna.Afirmaram ainda que os oito hernaniarras não cometeram qualquer delito e que foram detidos pelo seu compromisso com este povo. Na sua opinião, o objectivo deste tipo de operações é tentar parar a mudança de gerações e intimidar os jovens, para que deixem de lutar. “A ameaça é clara, aceitar a opressão dos estados e a miséria capitalista ou ser torturado e encarcerado”, denunciaram.
Reconheceram que é natural que estas situações gerem “medo ou resignação” entre os jovens, mas realçaram que também é preciso ter noção de que, “em grande medida” graças à luta da juventude basca, “o sistema capitalista está em crise, a estrutura de divisão e subordinação imposta a Euskal Herria ficou do avesso e acabou-se a chulice dos que enriquecem à custa da opressão”. Insistiram que, com estes “ataques”, pretendem evitar que os jovens adiram à luta pela independência e pelo socialismo e referiram ser necessário demonstrar a “esterilidade” da repressão respondendo com a “prática política”. “Somos a nova juventude basca, que assumiu o compromisso de lutar até conduzir este povo à liberdade”, indicaram.

Fonte: Gara

* SEGI: organização juvenil basca independentista, considerada “terrorista” pelo Estado espanhol, como tanta coisa basca, afinal. De acordo com a “jUstiça espanhola” fazem parte do “entorno de la banda” e mais “la puta santa madre”. Conhecemos a cantilena. Serve para mandar os dissidentes mais jovens para a prisão. Acusação? Pertence à Segi. Tinha um cartaz da Segi. Tinha um autocolante da Segi. Tinha um lenço da Segi. Desejava a autodeterminação para o seu povo. Tinha ideias políticas distintas das do Estado espanhol, defendia a liberdade do seu povo e assumia esse compromisso. Logo, detenção, regime de incomunicação durante cinco dias, possibilidade de tortura, declarações forjadas, prisão. Para libertarem quem nunca deviam ter detido, cobram quantias avultadas, sempre na casa dos milhares de euros, à chulos. Paradigma da “justiÇa espanhola” aplicada à Bascónia.