sábado, 4 de abril de 2009

Os expulsos das instituições fazem-se ouvir em Iruñea e Gasteiz

Depois de três décadas a tentar que a esquerda abertzale acatasse o actual status sem o conseguir, o Parlamento de Nafarroa blindou-se ontem para celebrar os seus 30 anos e o de Gasteiz deu início à legislatura do apartheid. A tentativa de silenciar este sector foi vã. Em Iruñea, os sorrisos e as felicitações iniciais transformaram-se em caretas e gritos de raiva quando entoaram o «Eusko Gudariak».

O Parlamento de Nafarroa e a Federação Navarra de Municípios e Concelhos tinham tratado de celebrar o 30.º aniversário das eleições de 1979 – “o renascer da democracia”, de acordo com o lema central – sem que ninguém lhes estragasse a festa. Os ex-deputados da esquerda abertzale não figuravam entre as centenas e centenas de convidados, e o serviço de protocolo confirmou-o a quem colocou expressamente a questão sobre o evento, alegando uma “decisão da Presidência”. Já a FNMC convidou todos os autarcas e ex-autarcas mas, curiosamente, na quinta-feira remeteu uma circular na qual advertia que ficavam sem efeito os convites aos eleitos sob as siglas da EAE-ANV. Quanto ao mais, o evento, apesar da sua dimensão, apenas se anunciou nos meios de comunicação. E nem sequer na página de Internet do Parlamento. O secretismo era tal que alimentava rumores sobre algum convidado muito especial. “Dizem que deve vir o rei”, referia-se nos corredores ainda ontem. Nas ruas tudo conduzia à mesma conclusão: a Polícia tinha estabelecido um perímetro de segurança com mais de 200 metros em frente à fachada da sede parlamentar.

À entrada, Yolanda Barcina, que assumirá o controlo da UPN dentro de uma semana, distribuía saudações. Lá dentro, trocavam-se abraços entre velhos conhecidos, incluindo militares, juízes e magistrados. Todos aplaudiram um vídeo em que se afirmava que há três décadas “se abriram de par em par as portas da democracia” [tipo Praça conde de Rodezno]. Miguel Sanz sorriu, satisfeito, quando Elena Torres, presidente do Parlamento, tomou a palavra e o saudou protocolarmente. Mas as mostras de autocomplacência iam acabar num instante.

Desde a varanda que dá para o átrio do Parlamento não era difícil reconhecer, até pela roupa, membros da esquerda abertzale, que não estavam em sintonia com a pompa oficial. Assim que Elena Torres começou a falar, saltaram todos como uma mola, em diversos pontos da sala, ergueram os punhos e começaram a entoar o «Eusko Gudariak».

Por certo, mais uns do que outros, mas recordou-se a cena de Gernika na presença do rei espanhol, em 1981. Passados 28 anos passava-se o mesmo no Parlamento navarro, uma instituição que andou muitos anos a oferecer à esquerda abertzale a cenoura da participação normalizada e que agora a trocou pelo pau. Uma história que conhecem bem, porque foram seus protagonistas alguns dos ontem presentes, como José Antonio Urbiola – hoje no PNV – ou Patxi Zabaleta e Iñaki Aldekoa – no Aralar.

Durante alguns segundos espalhou-se a confusão. Teve que ser a própria Elena Torres a pedir aos serviços de segurança que evacuassem da sala quem continuava a cantar o «Eusko Gudariak», que se retiraram sem oferecer resistência, com as suas bandeiras navarras e ikurriñas. Cerca de quinze pessoas foram minuciosamente identificadas e saíram então para a rua. Ali, depararam com uma concentração em denúncia da “farsa” do Parlamento.

Xanti Kiroga disse aos órgãos de comunicação que tinham tentado entregar uma carta a Miguel Sanz em que denunciavam o “embuste” do «Amejoramiento» e recordavam que “nestes 30 anos conhecemos também momentos de esperança, fruto muitas vezes de iniciativas da esquerda abertzale para resolver o conflito político. Mas nesses momentos verificámos até que ponto podem chegar os entraves colocados a esses processos por aqueles que têm noção de que o status reside na situação de vantagem que herdaram”.
A carta não se limitava apenas à crítica, mas realçava que “olhamos para o futuro e que o fazemos com esperança. Um futuro assente no compromisso para activar a colaboração de todos estes sectores populares que apostam, em Navarra, no reconhecimento de Euskal Herria e do seu direito a decidir”.

«A hipocrisia do PNV»
A esquerda abertzale também não faltou à constituição do Parlamento de Gasteiz, do qual se encontra excluída pela primeira vez. Às 11h30, a escassos metros da Câmara, soltou-se uma faixa em que se lia «Demokrazia Euskal Herriarentzat» [Democracia para Euskal Herria]. Ali, juntaram-se umas 200 pessoas com cartazes e ikurriñas.

A presença policial bem evidente – três carrinhas e um carro patrulha – não impediu que as palavras de ordem chegassem às portas do Parlamento. «Zuek faxistak zarete terroristak» [Vocês, fascistas, sãos os terroristas], «Demokrazia Euskal Herriarentzat» ou «Independentzia» foram algumas das que mais se fizeram ouvir. “Este parlamento não respeita a vontade do povo”, recordaram, antes de realçar que um dos objectivos desta exclusão é encerrar a fase de Lizarra-Garazi. Censuraram também a “hipocrisia do PNV”, pois “fala agora de golpe institucional” quando “fizeram precisamente a mesma coisa”.

Ramón SOLA / Zuriñe ETXEBERRIA
Fonte: Gara


«Eusko Gudariak», Anaitasuna 2007

«Eusko Gudariak»
Eusko gudariak gara
Euskadi askatzeko
gerturik daukagu odola
bere aldez emateko.

Irrintzi bat entzu da
mendi tontorrean.
Goazen gudari danok
Ikurriñan atzean.

Somos os combatentes bascos
para libertar Euskadi
generoso é o sangue
que vertemos por ela.

Ouve-se um grito
no cimo de uma montanha.
Vamos, combatentes, todos
atrás da Ikurriña.