terça-feira, 21 de abril de 2009

Uma sentida homenagem


Sigo com interesse a polémica aberta em Iruñea [Pamplona] em relação à praça dedicada ao Conde de Rodezno e o denodado interesse da autarca Barcina em manter a homenagem pública a tão sinistro indivíduo. E não é preciso arranhar muito para que o verniz democrático dos fascistas estale. Conheçamos o personagem.

Tomás Domínguez de Arévalo, conde que Barcina e a sua tropa homenageiam todos os dias, possui um palmarés digno dos mais insultados criminosos nazis. Fascista de convicção (“somos substantivamente antiparlamentares e não podemos sentir mais que substantiva aversão pelo sistema eleitoral vigente”), político mais que activo contra as reformas progressistas da II República, inimigo declarado do campesinato navarro e fanático na sua cruzada contra a igualdade de direitos entre mulheres e homens, o conde de Rodezno teve a duvidosa honra de ser nomeado ministro da Justiça (?) no primeiro governo de Franco. Ocupando esse cargo, assinou mais de 50 000 ordens de execução. Com a sua assinatura foram assassinados dezenas de milhares de homens e mulheres afectos à causa da liberdade, ao nacionalismo, ao progresso, ao igualitarismo, aos direitos civis e políticos. Dirigentes e militantes políticos e pessoas simples cujo único delito era ter-se levantado contra os golpistas, não os ter seguido ou, muito simplesmente, ser alvo da inveja de algum falangista cunetero [das valetas] foram fuzilados quando e onde ele determinava. Tomás Domínguez de Arévalo foi o encarregado de assinar todas essas sentenças de morte. E por tal Franco distinguiu-o, nomeando-o «Grande de España», se é que nessa Espanha sinistra algo podia ser grande, mais do que a dor e a barbárie.

Hoje, Barcina e os seus sentem falta dele e honram-no com uma praça e uma sala de exposições. Embora procurem maquilhar a coisa de maneira infantil. Sentem falta dele pelo que foi, pelo que fez e agradecem a herança recebida. Tomás Domínguez de Arévalo, com a capa condal tingida de sangue de mulheres e homens honrados, merece a homenagem de Barcina e dos seus. Mas que ninguém se alarme. A esses não lhes será aplicada a Lei de Partidos. Também não o farão ao seu admirado Manuel Fraga Iribarne, outro ministro de Franco que não teve dúvidas em afirmar que os criminosos do Batallón Vasco Español matavam bascos “para defender as suas vidas, os seus interesses e os de Espanha”. Aqui, conhecemo-nos todos.

Martin GARITANO
jornalista

Fonte: Gara