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Eis que a tela da TV convertia-se em um espelho. Aquilo… somos nós? A dialética temporal das projeções e reflexos que impactam o sujeito pelas imagens que o constituem, deformam-se, fragmentam-se, produzem o «rompimento do círculo do mundo interno para o mundo externo, gerando a quadratura inesgotável das enumerações do eu» (Lacan, «O estádio do espelho»). O corpo despedaçado. Como num filme de terror, ou em um pesadelo, quando olhamos para o espelho e de lá nos olha alguém que não somos nós, até que pela mão do diretor ou da psicanalista, chegamos à dramática sentença: «Tu és isto».
Aqui, no âmbito do juízo político, podemos coletivamente nos insurgir contra o espelho, ainda que como indivíduos isolados nos reste a depressão. Não, não somos isto. Isto é aquilo no que nos transformaram. Já passou da hora de aprender com Alice e olhar o que está atrás do espelho. (odiario.info)