quarta-feira, 1 de abril de 2009

Detenções à espanhola: Rubalcaba admite ausência de delitos concretos e justifica as detenções com prevenção de “sabotagens”

A Polícia espanhola deteve oito jovens e efectuou treze inspecções em Hernani e Urnieta com mandado do juiz da Audiência Nacional Baltasar Garzón. O ministro do Interior, Alfredo Pérez Rubalcaba, não precisou de outra acusação que não fosse a relação com a Segi, e não teve dúvidas em afirmar que a operação “previne actos de sabotagem”.

A Polícia espanhola prendeu na madrugada de terça-feira, em Hernani e Urnieta, Asier Olano, Txaber Zabaleta, Aitzol Arrieta, Egoitz Balerdi, Jon Ezeiza, Eki Oñate, Mikel Gartzia e Iñigo Alzelai, todos eles bastante jovens. A operação, que, segundo fontes policiais continua aberta, tem a assinatura do juiz da Audiência Nacional Baltasar Garzón. Mas o ministro espanhol do Interior, Alfredo Pérez Rubalcaba, não teve dúvidas em admitir novamente que se trata de uma operação que não se fundamenta em acusações de delitos concretos, mas que visa “frustrar actos de sabotagem e de violência”. O outro ingrediente habitual nas versões oficiais após as últimas operações: o TGV, uma obra que “há-de ser feita”, diz o ministro.

Este ministro da “democracia à espanhola” veio então dizer que assim se impediu a realização de “acções de sabotagem contra o TGV”, e que é obrigação do “Governo proteger trabalhadores e empresas que constroem a linha”, que estão “empenhados na luta contra a ETA em todas as frentes e que uma das frentes importantes é o seu alfobre”.

Como se tornou habitual, depois do “olha-que-fortes-que-nós-somos-a-prender-catraios-que-nem-de-um-crime-estão-acusados”, o sinistro deixou bem claro que agora hão-de ir à cata de acusações. E mostrou-se confiante no esclarecimento de “um número importante” de acções de kale borroka ocorridas em Gipuzkoa.

“Deixaram tudo de pernas para o ar”
A operação policial começou de madrugada. Tiveram lugar pelo menos treze inspecções. Da herriko taberna Garin e do bar Aker, onde estiveram uma hora, levaram isqueiros e tampas, segundo disseram ao GARA os moradores ali presentes.

Nas habitações estiveram em média umas duas horas. Na casa de Asier Olano, por exemplo, chegaram por volta das 2h30. “Ouvimos um barulho forte de metais que pensámos ser dos andaimes da fachada. Mas logo de seguida ouvimos gente que subia as escadas a correr e gritavam ‘mãos ao alto, Polícia’. Uns vizinhos desceram para ver o que se passava, mas disseram-lhes que lhes abriam um processo se se deixassem ficar ali”, relatou uma moradora da Kardaberaz kalea.

Segundo referiram os familiares do jovem, os agentes entraram em casa de “armas na mão. Durante a inspecção, o pai esteve com ele, enquanto a mãe foi mantida na sala. O quarto ficou de pernas para o ar, as gavetas espalhadas pelo chão e partiram mesmo a parte superior do armário embutido”. A inspecção da habitação, bem como da garagem dos pais e da casa do lixo, terminou por volta das 5h.

Na de Txaber Zabaleta estiveram três horas, entre as 2h30 e as 5h30. “Acordámos ao ouvir o toque da campainha. Quando lhes perguntámos o que passava, limitaram-se a dizer-nos que a ordem vinha de Madrid. Inspeccionaram todo o andar, uma assoalhada a seguir à outra. Entravam numa, metiam umas coisas num saco numerado e partiam para a seguinte. Deixaram a casa feita num oito. Levaram lenços, DVD, CD, fotos de família, do meu filho com o seu grupo... Também dois computadores; um portátil e o disco rígido de um outro”, dizia a sua mãe.

Na inspecção, acrescentou, participaram meia dezena de agentes à paisana, enquanto um outro grupo, de uniforme, esperava à porta. Foi-lhes completamente proibido falar com o filho.

“Às 7h45, ligaram-nos da esquadra de Donostia para nos comunicarem que estava ali. Por volta das 15h, voltaram-nos a ligar para dizer que os levavam para Madrid. Perguntei-lhes quando chegariam e se nos ligariam. Disseram-nos que não, que não podiam”.

Na casa de Aitzol Arrieta estiveram desde as 2h30 até às 5h. A sua mãe é Nekane Erauskin, até há pouco deputada em Gasteiz: “Não nos permitiram assistir à inspecção. Entre as coisas que levaram está o meu computador, o do Parlamento. Quando lhes disse que era a minha ferramenta de trabalho, responderam-me que apresentasse uma reclamação”, dizia ao GARA.

Os pais de Eki Oñate foram postos contra a parede assim que abriram a porta. Eram 2h15. “Entraram de pistola na mão. Levaram um portátil, dois discos rígidos, algumas fotos, uma bandeirola pelos presos, dois DVD e uma arrano beltza [águia negra, um dos símbolos da Nafarroa independente]. Além da casa, inspeccionaram a garagem. Estiveram aí quatro horas. Deixaram-nos despedir”, referiam. A preocupação de todos era patente.

Fonte: Gara
Ontem, centenas de pessoas percorrem as ruas de Hernani, para protestar pela última razia policial contra a juventude basca.

Ver: kaosenlared

Os detidos em Hernani e Urnieta continuam sob incomunicação

Segundo o Movimento pró-Amnistia, hoje soube-se que se Asier Olano, Txaber Zabaleta, Aitzol Arrieta, Egoitz Balerdi, Jon Ezeiza, Eki Oñate, Mikel Gartzia e Iñigo Alzelai vão ver o período de detenção prolongado.

Os oito jovens, detidos na madrugada de ontem, continuam sob incomunicação em dependências policiais em Madrid.
Ontem, o juiz aceitou algumas medidas como efectuar a videogravação do período de detenção, que sejam assistidos por um médico de confiança e que os seus familiares sejam informados sobre o paradeiro e o modo como se encontram. Perante isto, o Movimento pró-Amnistia destacou que “a única” forma de evitar os maus-tratos e a tortura é suprimir o período de incomunicação.
“Existem precedentes claros de que a aplicação dessas medidas não é suficiente para evitar a tortura, pelo que neste momento os detidos correm o risco de ser torturados”, realçaram.
Os advogados dos jovens pediram ontem que fossem conduzidos directamente ao juiz, mas este rejeitou essa pretensão.
O Movimento pró-Amnistia apelou à participação na manifestação que terá lugar na próxima sexta-feira em Hernani, às 20h, a partir da Gudarien Enparantza.
Fonte: Gara