segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Deter, deter, deter...


Se não se tratasse de algo tão sério, teria intitulado esta coluna «Detenerrr, detenerrr, detenerrr» e teria descrito um Rubalcaba disfarçado de King Africa, interpretando uma espécie de canção de Verão, o hit-parade da moda repressiva espanholista. Mas a voz que pronunciou estas palavras não vem do mundo da «música ligeira» mas das profundezas das cloacas do Estado. Que eu saiba, não estive em nenhum lugar pelo qual Rubalcaba tenha passado imediatamente antes, pelo que não posso dizer que «cheira a enxofre», como Chávez ao falar depois de Bush na tribuna da ONU. Mas posso imaginar a pestilência. É que são muitos anos a arrastar-se por essas cloacas, fazendo todo o tipo de coisas asquerosas. Quem sabe em que meandros da rede de esgotos perdeu os seus escrúpulos, se é que alguma vez os teve! É o que dá servir um Estado que se vangloria de ter passado de ditadura a «democracia» sem despedir (não falemos já em julgar) nenhum dos seus polícias, juízes e demais servidores. Com transições assim, garante-se que a flora e fauna cloacal continue bem alimentada e há quem, como Rubalcaba, se encontre nesse ecossistema como na sua própria casa.

Desse nauseabundo submundo chegavam os ecos da chamada à enésima guerra santa contra os enésimos inimigos de Espanha. Deter, deter, deter. Sem dúvida, uma estratégia elaboradíssima, própria de génios do maquiavelismo. Pergunto-me quantos sábios terão consultado para chegar a tal conclusão. Tanta parvoíce pós-moderna, tanta tecnologia, tão preclara mente no Ministério do Interior e a única coisa que lhes ocorre é o mesmo que diziam os ministros de Franco!

Há que reconhecer que lá deter bascos é coisa que os espanhóis sabem. De tanto o fazer, sai-lhes quase sem esforço. De facto, nota-se que já sentiam falta. Alguns sentem suores frios ao imaginar que virá o dia em que não poderão rebentar com portas e estropiar vidas levando as pessoas detidas para a sua espanholíssima versão do inferno. Por outro lado, neste terreno, a liderança espanhola é mundialmente famosa; são muitos séculos de Cruzada, Inquisição e autos-de-fé.

Mas, se alguma coisa caracteriza os nacionalistas espanhóis, é a sua obsessão com o deter o curso da história! Aí, ficou exposto à luz do sol o subconsciente rubalcabil. Deter pessoas, claro, mas para deter a história. Para evitar que a vida siga o seu curso e termine a abominável imposição espanhola sobre o povo basco. Rubalcaba quer deter, sim, quer deter gente e quer, sobretudo, deter o processo que vem. Quer deter os ponteiros do relógio. Quer parar o mundo para o congelar no seu estado actual. Suponho que a permanência continuada nas cloacas desenvolve alguns instintos especiais. As ratazanas são conhecidas por alguns deles. Será por isso que Rubalcaba sente que o seu tempo se esgota? É por isso que o quer deter? Temo que o seu fracasso esteja assegurado graças à vontade da sociedade basca e à aposta de diversos agentes, especialmente a esquerda abertzale. Felizmente, no nosso país cheira a esperança, não a detritos, e nem sequer Rubalcaba vai ser capaz de empestar o nosso futuro.

Floren AOIZ
www.elomendia.com
Fonte: Gara