quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Receitas de opinião pública espanhola


As detenções no passado fim-de-semana de Zugaitz Izagirre e Regina Maiztegi foram apresentadas à opinião pública espanhola como dois novos «troféus de caça» que engordam a estatística e alimentam o discurso da eficácia policial. Um deles, contra quem nem sequer havia ordem de detenção, foi já libertado; e o outro, que se encontrava de férias, tinha sido condenado e não tinha recorrido da sentença, e, com quase metade da pena cumprida, levava uma vida normal e ia semanalmente a tribunal assinar. Mas eram «pistoleiros» que tinham «fugido depois da sua condenação». Não importam agora o rigor nem o respeito pela deontologia jornalística, nem os danos causados ao bom nome e integridade das pessoas afectadas. Se serve para a construção do discurso policial, a verdade e os direitos das pessoas, e mais ainda se estas defendem a causa abertzale, podem ser sacrificados. A opinião pública espanhola não só o entende, como ainda o premeia. De facto, os ministros do Interior são os que mais aprecia.

Apresentar à opinião pública espanhola o que a esquerda abertzale faz, mais do que a partir da sua análise, a partir das suas próprias decisões e da sua convicção, como fruto da eficácia policial, e porque «não lhes resta outra», é de manual. Reflecte a debilidade de quem se sente cómodo e ganhador na espiral do confronto e da ilegalização. No entanto, à medida que amadurece a possibilidade de confrontar e materializar todos os projectos num novo cenário, sem violência, o discurso policial e o fechamento no «não» como princípio enfraquecem, desligam-se do sentir maioritário da sociedade basca. Então, escoram o seu imobilismo numa «opinião pública espanhola» não preparada nem educada para a mudança.

Mas quem está comprometido com um futuro de soluções para Euskal Herria também encara o desafio de trabalhar especificamente a opinião pública espanhola. Não de forma permanente nem prioritária, mas no sentido de posicionar a solução democrática como bem comum, e de fazer pedagogia construtiva. O último processo de negociação já o evidenciou.

Fonte: Gara