Nas conversas que mantemos no dia-a-dia, sem asserções ou diálogos profundos, o «pelo sim, pelo não» é uma expressão corrente, que não faz mais que lançar uma hipótese sobre aquilo de que estamos a falar. Coloca a advertência fora da realidade possível e, por vezes, serve apenas para lançar certa dose de negativismo sobre a alegria de um impulso ou de um projecto. Dizem que, quando se manipula a linguagem, se manipulam também as ideias. E é verdade. Num uso malévolo, o «pelo sim, pelo não» apela à incerteza e impõe um medo inconsciente sobre o que possa vir a acontecer. Desperta um desejo de garantir a segurança e, assim, tende a justificar de forma sibilina a repressão. O «pelo sim, pelo não» subjaz como uma ameaça velada a grande parte das leis e das normas. Pelo sim, pelo não, antes de que alguma coisa aconteça, proíbo-a, antes de que exista, ilegalizo-a, antes de que ajas, prendo-te, antes de que penses, desinformo-te. A liberdade cria problemas? Então, pelo sim, pelo não, restrinjo-a. A exigência de direitos desestabiliza a negociata nacional? Construo uma sentença que o evite. E se o bem-estar dos trabalhadores não permite que os lucros do capital transbordem, pelo sim, pelo não... provoco uma crise e invento uma reforma laboral que anule os seus direitos. E se tudo isto não é ainda suficiente, digo ao patronato que não se preocupe, que, caso os lucros não ultrapassem os do trimestre anterior, poderão despedir os trabalhadores que quiserem. Está claro que, hoje, o «pelo sim, pelo não», em qualquer língua que se diga, incluindo o euskera, é uma expressão de direita.
Amparo LASHERAS
jornalista
Fonte: Gara