sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Impunidade, parte da nossa paisagem


São poucas as situações que nos deixam boquiabertos e poucas as ocasiões que nos obrigam a levar as mãos à cabeça. Nada chama a nossa atenção e as violações de direitos humanos e os protestos contra elas fazem parte da nossa paisagem particular.

Conhecedores desta ausência de estupefacção, os palestinianos conseguiram arranjar um espaço nos nossos ecrãs recorrendo à imaginação e equiparando a impunidade de Israel com a dos invasores humanos de Pandora. Tal como o tinham vindo a fazer todas as sextas-feiras havia mais de cinco anos, os palestinianos, sedentos de justiça, denunciaram a construção do muro que procura isolar a Cisjordânia do mundo, pintados de azul e convertidos em na'vis de filme. Só assim conseguiram fazer ver a sua realidade tridimensional.

Não é preciso ir tão longe para topar com marcas de impunidade. A forma como se apuraram, de uma assentada, as responsabilidades dos altíssimos índices de criminalidade que se atingiram no franquismo, criando uma lei «caso arrumado!», como é a Lei da Amnistia de 1977, é um bom exemplo disso.

A actualidade também nos fornece exemplos diários, e a verdade é que sobre alicerces corroídos pela impunidade não é possível erguer um edifício são.

Na quarta-feira, foi Maite Pagazaurtundua que fez alusão à impunidade. A irmã de Joseba Pagazaurtundua, exaltada pelas detenções de Gurutz Agirresarobe e Aitziber Ezkerra, afirmava «não haver nada de mais destrutivo para as regras do jogo que a impunidade». Penso que é a primeira vez que estou de acordo com esta senhora.

Impunidade é que o corpo de Jon Anza apareça onze meses depois do seu desaparecimento numa morgue e que ninguém dê explicações fidedignas; impunidade é que uma testemunha protegida diga que alguém gritou «Gora ETA» e que a Audiência Nacional espanhola o condene com base nessa única prova.

Definitivamente, impunidade é poder.

Oihana LLORENTE
Fonte: Gara