OTEGI: «Se defender uma estratégia de carácter pacífico e democrático é crime, então somos culpados; se não, somos inocentes» (Gara)
A sessão vespertina do julgamento do «caso Bateragune» iniciou-se às 16h30 (hora de EH) com o depoimento de Arnaldo Otegi, que começou por responder a questões colocadas pelo magistrado da acusação Vicente González Mota.
Depoimento de Arnaldo OTEGI (Info7 Irratia)
No fim-de-semana, mobilizações em Burlata e Irunberri (ateakireki.com e ateakireki.com)
Representantes políticos expressam a sua solidariedade aos arguidos (Gara)
Fotos: julgamento do «caso Bateragune» (Berria)
O julgamento de Rafa Díez, Amaia Esnal, Sonia Jacinto, Txelui Moreno, Arnaldo Otegi, Arkaitz Rodríguez, Mañel Serra e Miren Zabaleta iniciou-se com as questões prévias apresentadas pela defesa dos oito arguidos, que propôs ao tribunal que incluísse como prova uma declaração juramentada de dirigentes do EA como Pello Urizar, Unai Ziarreta, Rafael Larreina, Elisa Saiz de Murrieta, Luis Mariano Alava e Ikerne Badiola, que tinham sido impedidos de participar no julgamento como testemunhas.
Após um intervalo, o tribunal acabou por aceitar que todos esses dirigentes do EA, com excepção de Alava, compareçam como testemunhas, apesar da oposição do magistrado Vicente Mota.
Rafa Díez, duas horas de depoimento
O interrogatório aos arguidos começou com Rafa Díez, que apenas respondeu ao seu advogado.
Depois de explicar que trabalho realizava no sindicato depois de ter deixado de ser secretário-geral, Díez referiu-se a Arnaldo Otegi, com quem mantém uma relação próxima há vários anos «em todos os âmbitos». Disse que, após o processo de negociação de 2006, ambos consideravam necessário um debate no seio da esquerda abertzale sobre uma mudança de estratégia. Otegi foi encarcerado pouco depois e, enquanto esteve na prisão, Díez encarregou-se de transmitir essa reflexão a pessoas determinantes dentro da esquerda abertzale, bem como a outros agentes políticos e sindicais.
Quando Otegi saiu da prisão, em Agosto de 2008, retomaram a necessidade de promover um debate «de grande peso» entre as bases da esquerda abertzale, para abordar a mudança de estratégia, pois «para nós era claro que tinha de ser um debate aberto, claro e contundente. Não havia lugar para a co-habitação com a estratégia anterior, fundamentalmente com a luta armada».
O ex-líder do LAB afirmou que «de forma alguma» houve «dependência, controlo ou subordinação» à ETA nessa reflexão, tendo dito que agiam de «forma autónoma, sem qualquer tipo de tutelagem» com vista a alcançar «um cenário de paz definitiva e soluções democráticas».
«A nossa aposta era muito clara», afirmou.
Precisou ainda que no dia 5 de Agosto de 2009, dois meses antes de serem detidos, se reuniram para «dar corpo a uma proposta histórica», que seria depois debatida entre as bases da esquerda abertzale.
«Deixámos pronta a coluna vertebral da Declaração de Altsasu», que foi apresentada um mês depois da operação policial, disse.
Arkaitz Rodríguez
O segundo a depor foi Arkaitz Rodríguez, que também não respondeu ao magistrado da acusação. Tal como Rafa Díez, considerou que surgiu um grupo improvisado «não formal, não estruturado e aberto», para promover o debate interno na esquerda abertzale, que entendia que «o único caminho para a acumulação de forças passava por uma estratégia pacífica e democrática».
Puderam verificar que as bases da esquerda abertzale partilhavam essa ideia, pelo que procuraram que alastrasse «como uma mancha de azeite», para ir ganhando adeptos.
«Eram reflexões muito concretas que se referiam à necessidade de propor um debate em profundidade no seio da esquerda abertzale que visasse superar a estratégia que até essa altura se levava a cabo e substitui-la por outra que recorresse exclusivamente a vias políticas e democráticas», afirmou.
Disse que ele também esteve, em Agosto de 2009, na sede do LAB e confirmou, como tinha dito Díez, que estavam a concluir o esboço da proposta para o debate. Também negou que recebessem instruções da ETA.A Procuradoria da Audiência Nacional espanhola pede para cada um deles dez anos de prisão, acusando-os de ter tentado reconstruir o Batasuna, após a ilegalização dessa força política abertzale, através daquilo que denomina «grupo Bateragune». Mais ainda, o magistrado Vicente González Mota afirma no seu texto de acusação que a tarefa do Bateragune consistia em «levar o confronto político até um ponto culminante», agindo para tal em dois sentidos: a «neutralização de qualquer espaço da esquerda abertzale sem a ETA» e a «acumulação de forças para a construção nacional através de um pólo soberanista subordinado aos fins e métodos da ETA».
«"Bateragune": El maligno son ellos», de Sabino CUADRA LASARTE, advogado (lahaine.org)
A propósito do julgamento do caso «Bateragune» que hoje se inicia, o autor estabelece uma analogia entre a «concepção maniqueísta do Bem e do Mal» da Igreja católica e a Audiência Nacional que os julgará. Assim, o que para a Igreja é o «demónio com todos os seus nomes e formas de encarnação», para a Audiência Nacional é a «ETA e o independentismo que a incubou». Considera que a AN e os seus «sacerdotes de toga» sabem que as acusações são «uma farsa», e convida-a a olhar para as suas entranhas, dos seus precedentes até aos membros que a compõem, para encontrar o verdadeiro «maligno», o «Satã do inferno franquista».