O silêncio com que a classe política e os meios de comunicação espanhóis receberam a constatação de irregularidades sistemáticas na contagem dos votos nas eleições para o Parlamento Europeu só pode ser entendido como sinal de algum tipo de compromisso tácito. Uma decisão que se afasta da responsabilidade que os políticos deveriam demonstrar perante um facto que ridiculariza a competência de certos cargos e que, por sua vez, se afasta de um princípio básico do jornalismo, que se deve guiar, entre outras coisas mas primordialmente, por aquilo que é noticia. E não restam dúvidas de que o facto de que milhares de votos tenham sido adjudicados erroneamente a outros partidos é notícia, pelo menos se a Europa se parece de alguma forma com aquilo que os políticos europeus – e espanhóis – dizem que é.
Que nenhum meio de comunicação do Estado, nem os afins aos possíveis prejudicados nem os propensos ao escândalo, tenha feito mais do que referir um ou outro dado sem importância é, no mínimo, surpreendente. Já menos surpreendente é que os responsáveis políticos desviem o foco das atenções para a parte administrativa, como o fez o ministro do Interior, Alfredo Pérez Rubalcaba. Ao fim e ao cabo, a única coisa que está a fazer ao proceder dessa forma é ocultar as suas responsabilidades, algo tristemente comum na classe política. O que volta a ser suspeito é que ninguém lhe lembre que essa responsabilidade recai sobre ele, tal como o mesmo assumiu na noite eleitoral.
E isto leva a pensar que tanto os prejudicados pela contagem como os beneficiados por ela decidiram que preferem esconder este escândalo e ficar como estão. Transmitem assim claramente a noção de que nem eles mesmos acreditavam nos seus discursos sobre a importância da participação. Admitem assim que a sua prioridade é manter a sua posição dentro do sistema, seja esta a privilegiada ou a puramente subalterna. Passam assim da negligência à fraude e do apagão à omertà de estado. O que vem confirmar mais uma vez que, entre democracia e razão de estado, no caso espanhol prevalece sempre a segunda. E ainda mais se na origem da denúncia está, de uma ou outra maneira, o independentismo basco.
Fonte: Gara
Que nenhum meio de comunicação do Estado, nem os afins aos possíveis prejudicados nem os propensos ao escândalo, tenha feito mais do que referir um ou outro dado sem importância é, no mínimo, surpreendente. Já menos surpreendente é que os responsáveis políticos desviem o foco das atenções para a parte administrativa, como o fez o ministro do Interior, Alfredo Pérez Rubalcaba. Ao fim e ao cabo, a única coisa que está a fazer ao proceder dessa forma é ocultar as suas responsabilidades, algo tristemente comum na classe política. O que volta a ser suspeito é que ninguém lhe lembre que essa responsabilidade recai sobre ele, tal como o mesmo assumiu na noite eleitoral.
E isto leva a pensar que tanto os prejudicados pela contagem como os beneficiados por ela decidiram que preferem esconder este escândalo e ficar como estão. Transmitem assim claramente a noção de que nem eles mesmos acreditavam nos seus discursos sobre a importância da participação. Admitem assim que a sua prioridade é manter a sua posição dentro do sistema, seja esta a privilegiada ou a puramente subalterna. Passam assim da negligência à fraude e do apagão à omertà de estado. O que vem confirmar mais uma vez que, entre democracia e razão de estado, no caso espanhol prevalece sempre a segunda. E ainda mais se na origem da denúncia está, de uma ou outra maneira, o independentismo basco.
Fonte: Gara
Ver também: «Precisamos de observadores», de Zabaleta, em kaosenlared.net