O grande palco que nas noites anteriores acolheu os concertos mais concorridos tornou-se pequeno na cerimónia em que milhares de pessoas se juntaram para denunciar a política de dispersão a que os estados espanhol e francês sujeitam os presos políticos bascos. As fotos de 740 presos nas mãos de familiares e amigos encheram o palco e as pessoas responderam em massa ao apelo da organização.
O acto teve início por volta das 13h45 e foi precedido pela destreza de Oreka TX na txalaparta, que contou com a colaboração de uma vocalista sarauí e de Mikel Urdangarin, interpretando o tema «Martxa baten lehen notak», de Mikel Laboa. Em seguida, os vereadores e o autarca de Lakuntza quiseram agradecer todo o trabalho da organização e dos voluntários e afirmaram que “as portas de Lakuntza estão abertas para todos, para o que for preciso”.
O coro de Zarautz e Hondarribia deu início à cerimónia solidária. Laboa voltou a estar presente com «Oroitzen zaitudanean, ama», e os dantzaris ofereceram um aurresku e um fandango a duas mães de presos. Vários vídeos iam sendo exibidos, de forma intercalada, nos ecrãs gigantes. O primeiro mostrava as imagens recolhidas desde a montagem até aos dias do festival. Também houve uma saudação internacional para outros povos do mundo “que sofrem o imperialismo e a repressão”, em especial para o povo Tamil. “A guerra que mantém com o governo de Colombo já fez muitas centenas de mortos e feridos e o Hatortxu Rock quer manifestar-lhes o seu apoio”. O terceiro dos vídeos fez uma passagem pela repressão dos últimos trinta anos, exercida por diversos corpos policiais.
A música, por seu lado, esteve a cargo de Anje Duhalde e do irlandés Bic MacFarlan, preso durante vinte anos, que interpretaram «Derryra itzuli nahiko nuke», uma versão do tema de Bobby Sands em euskara e inglês. E, com os primeiros acordes de «Amnistiaren dema», começaram a subir ao palco os familiares e amigos dos presos com as suas fotografias.
Um povo sem Hatortxu
Rodeada pelas mais de setecentas fotografias, a ex-presa política Begoña Sagarzazu tomou a palavra. “Mostrámos o que é a solidariedade, como se faz a solidariedade”, referiu, agradecendo depois a entrega de todos os voluntários que trabalharam para tornar realidade este décimo Hatortxu Rock. Afirmou, no entanto, que “queremos um povo sem Hatortxu, um povo sem presos nem refugiados”. Sagarzazu denunciou a tentativa de destruir o colectivo dos presos políticos bascos com políticas penitenciárias que “mantêm na prisão os que sofrem de cancro, impondo na prática penas para toda a vida. Procuram eliminar o colectivo como referência política e, para isso, têm em marcha todas as vias necessárias para sufocar os membros desse colectivo como pessoas”. “Os governos espanhol e francês construíram um verdadeiro Guantánamo com os presos políticos bascos», acrescentou.
Por outro lado, referindo-se ao que tem acontecido na rua nestas últimas semanas, como a eliminação das fotografias dos presos, afirmou que “a política de repressão das prisões” saltou para fora das grades com a mesma lógica e que, por isso, realizar uma iniciativa solidária como o Hatortxu Rock neste contexto “mostra bem o apoio que os presos têm neste povo”. “Este é o caminho e queremos dizê-lo bem alto: a aproximação aos objectivos que buscamos será conforme ao trabalho e à pressão que realizemos”.
Sagarzazu não quis terminar sem recordar que o caso de Jon Anza continua por esclarecer. O acto solidario terminou com o coro e os milhares de pessoas que se deslocaram a Lakuntza a cantarem «Kalera kalera» e a fazerem ouvir palavras de ordem a favor da amnistia. Em seguida, mil pessoas, com uma cartolina na mão, conseguiram construir um mosaico gigante que foi fotografado a partir de uma avioneta.
Um dia para todos
O primeiro Hatortxu Eguna atraiu a Lakuntza muita gente que não é costume ver nos festivais de música mas que, com a oportunidade oferecida nesta edição, com este dia aberto para todos, quis conhecer todo o trabalho realizado em Lakuntza e participar nesta festa solidária. Famílias com crianças pequenas desfrutaram desde o início da manhã com os gaiteiros, Kilikis e gigantes, insufláveis ou a actuação do Txan Magoa.
O almoço popular organizado no frontão foi um êxito completo. Fermín Balencia e as suas míticas canções deram o ambiente para uma sobremesa concorrida. Os concertos da tarde também contaram com uma assistência numerosa e, quando os palcos maiores foram fechados, o bom ambiente continuou nos arredores da praça.
No entanto, não se pode pôr de parte o propósito que subjaz à realização deste festival e, apesar de ter sido um grande êxito, os organizadores esperam não ter que organizar a undécima edição do Hatortxu Rock.
Ane ARRUTI
Solidariedade que superou todas as previsões
Ainda sem dados definitivos, a organização fez ontem um primeiro balanço “muito positivo, que supera as previsões que tínhamos”. O que se viveu durante estes três dias em Lakuntza “é uma mostra da união e da solidariedade que existe em Euskal Herria relativamente aos presos políticos”. Destacaram a atitude de respeito dos assistentes para com Lakuntza e agradeceram a contribuição de todos os voluntários e músicos para o Hatortxu Rock. Apesar do balanço positivo, denunciaram a presença da Guarda Civil e da Polícia Foral, que “insultaram, ameaçaram, revistaram e identificaram, tendo chegado a mostrar comportamentos sexistas, todos os que se deslocaram até Lakuntza”. Também assinalaram “o silêncio dos grandes meios de comunicação, sobretudo da EITB. Face a esta iniciativa gigante, responderam com censura política”. A.A.
Fonte: Gara
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Fotos: a foto inicial, que recolhemos na askatu.org, é da organização do Hatortxu; as restantes são do Gara. Beti zuekin! Sempre convosco!
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ADENDA: Estiveram muitos, muitos milhares de pessoas em Lakuntza, mas o trabalho solidário ainda não terminou; agora é preciso limpar o terreno. Fonte: apurtu.org