sábado, 10 de abril de 2010

«Invasão» de solidariedade no julgamento de dois militantes bascos no tribunal de Paris


Mais uma vez, os corredores do Palácio da Justiça de Paris assistiram à solidariedade popular para com os militantes bascos ali julgados. A magistrada pediu sete anos de prisão para Gisasola e Larrañaga.

Os gendarmes e polícias que habitualmente levam os presos políticos bascos para o Palácio da Justiça de Paris começam a ficar habituados ao bulício e à agitação que acompanha estes julgamentos. Na quinta-feira passada, uma nova «invasão de solidariedade» despertava a curiosidade das numerosas pessoas que nesse momento passavam pelo primeiro piso, onde fica a sala do Tribunal Correccional especial que julgava o zarauztarra Mikel Larrañaga e o gernikarra Arnaltz Gisasola.

Cerca de cinquenta familiares e amigos que tinham viajado durante a noite até à capital do Estado francês esperavam, pontuais, à porta da sala. Os polícias deixavam-nos entrar por turnos «caso o fizessem ordenadamente e em silêncio» - algo bastante difícil, já que nesta não cabiam todos ao mesmo tempo.

De facto, a «desordem» ocorreu quando se vislumbraram os dois militantes entre os gendarmes que os conduziram até à sala de audiências por uma porta lateral. Assim que entraram, começou a troca de saudações silenciosas, olhares cúmplices, piscadelas, sorrisos e, inclusive, uma ou outra lágrima, em particular daqueles que não os tinham podido ver nos últimos anos.

A entrada do tribunal, composto exclusivamente por mulheres e que, com manifesta falta de vontade, teve de ser recebido em pé, interrompeu a troca de saudações, mas só por algum tempo.

Recusa em responder
Depois dos procedimentos de identificação, a presidente deu início a uma longuíssima exposição da qualificação dos delitos pelos quais ambos se encontram processados, dos factos que lhes são imputados e dos numerosos relatórios policiais que engordam o dossier. As acusações apoiam-se nos ditos relatórios, já que os dois militantes, desde o momento da sua detenção, em Dezembro de 2005, e durante toda a fase instrutória, se recusaram a responder às perguntas do juiz. Gisasola e Larrañaga mantiveram a mesma tónica de recusa em responder à presidente e à magistrada. O primeiro fez saber à presidente que «falaria depois», o que fez quando leu em francês - «para que entendam» - um documento.

A declaração recordava, entre outros pontos, «o carácter político do conflito que Euskal Herria enfrenta com os estados francês e espanhol», reclamava «o direito da nação basca a ser soberana e a ter um estado», e pedia a Madrid e, em particular, ao Estado francês, que os estava julgar, que «o reconhecessem, que abandonassem as vias repressivas e que abordassem o diálogo».

A essa intervenção seguiu-se, de punho erguido, o «Eusko Gudariak», o que provocou a retirada voluntária do tribunal e a compulsiva dos dois militantes que, no entanto, regressaram ao fim de alguns minutos. A magistrada pôde assim pedir sete anos de prisão e a proibição definitiva de residência em território francês para cada um deles, e a defesa expôs os seus argumentos «sobre um caso, relativamente simples, que incompreensivelmente levaram mais de quatro anos a examinar».

A presidente prometeu decretar sentença a 20 de Maio; os amigos e familiares, entre emotivas «lembranças a...» e mensagens de despedida, que não deixarão de lhes fazer chegar o seu carinho.

A.M.
Fonte: Gara