domingo, 12 de setembro de 2010
Abrindo caminhos, cerrando trincheiras
Os partidos, agentes e cidadãos que promoveram a que era para ser a primeira grande mobilização após a confirmação por parte da ETA da suspensão das suas acções armadas ofensivas optaram por responder com serenidade ao ataque de nervos que a iniciativa Adierazi EH provocou nos postos de comando da Audiência Nacional espanhola.
O Estado se resguardou-se primeiro no inverosímil discurso do nada mudou, para mostrar de imediato o rosto áspero do verdugo. Disfarçado, como tantas outras vezes, numa toga surrada, infligiu um nova e sonora martelada aos direitos civis e políticos em Euskal Herria.
Com a vista enterrada nas trincheiras, Zapatero brande a bandeira da desconfiança, como se à vista da sua inacção pudesse existir, à partida, outra coisa senão receio. Aquele que exerce o poder deveria ter a capacidade para descrever soluções, já que a descrição dos problemas é um exercício ao alcance de qualquer um de nós.
A Moncloa, com o crédito interno praticamente esgotado, junta-se à louca corrida para deter o tempo, enquanto na esfera internacional, a partir de diversas tribunas de opinião, os observadores mais inquietos e até os menos suspeitos de comungar da estratégia independentista basca não escondem já a sua perplexidade face à falta de liderança de um Governo e à pobre ambição de um Estado que é incapaz de traçar rotas credíveis com vista a um cenário em que tudo aponta para movimentos em cadeia, em todos os âmbitos, em diversas direcções.
As mudanças serenas, estratégicas, já se desenham. Esboçam-se através de acordos entre partidos, antes em Bilbo, agora em Iruñea, mas também com as denúncias cada vez mas amplas e plurais relativas à fraca qualidade de uma democracia formal de maneiras tão toscas, e com a agudização de um sentimento cidadão de repúdio activo para com um Estado bêbado de desculpas, anémico de propostas e desavergonhado na hora de expor à sociedade basca e ao mundo que o observa a sua predilecção pela imposição violenta.
Tinham medo de um fotograma de país em marcha por uma paz justa. Mas não faltarão, dentro em breve, melhores ocasiões para juntar imagens com as quais se poderá aclarar o horizonte. Que se deixem ficar a vociferar na sua trincheira, que este povo continuará a abrir caminhos. Por si mesmo e contra ninguém.
Maite UBIRIA